tag:blogger.com,1999:blog-31744703787418935772024-02-08T12:48:03.477-08:00Textos DidáticosBlog destinado a pessoas interessadas em ler bons textos e até mesmo utilizá-los como material didático.Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.comBlogger26125tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-80901818556644599082008-06-13T13:10:00.001-07:002008-06-13T13:10:36.393-07:00SHAKESPEARE"Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e nem promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprende a contruir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. (...) Descobre que se leva certo tempo para construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. (...) Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou. (...) Descobre que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar. Que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe... Depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida." (WILLIAM SHAKESPEARE)Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-14497178301705902822008-06-13T13:06:00.000-07:002008-06-13T13:07:37.160-07:00ÁfricaA emancipação da África Negra Desigualdade e autoritarismo nos países independentes da África<br />O final da Segunda Guerra Mundial criou um clima amplamente favorável a democracia e a emancipação dos países que ainda estavam sob o jugo colonial de nações estrangeiras. A vitória no confronto com os nazistas liderada pelos Estados Unidos, Inglaterra e França trazia no seu bojo o claro constrangimento das nações européias. Esses países da Europa, que proclamavam em alto e bom tom o seu ideário liberal e democrático, ainda se valiam do domínio sobre territórios africanos e asiáticos para aumentar suas riquezas e fortalecer suas economias.<br />Isso aumentava ainda mais as dificuldades internas dos países africanos em busca de emancipação e estabilidade política e econômica. Até mesmo em países que teoricamente estavam mais preparados para realizar a transição da posição de colônias para a de países livres, como eram os casos do Quênia e da Nigéria (ex-colônias britânicas) ocorreram muitos problemas.<br />O Quênia, país pobre situado na África Oriental, caracterizado por um território sem água, em que as terras são estéreis, tinha enormes problemas em setores básicos como a produção e a distribuição de alimentos. Suas poucas áreas propícias ao desenvolvimento de culturas agrícolas situam-se na região sul do país, na proximidade do Oceano Índico.<br />Se não bastasse essa penúria, o Quênia também sofria com os conflitos internos causados por algumas de suas tribos, como foi o caso da Rebelião Mau Mau (1952). Esse imbróglio foi causado pelos membros da tribo Kikuyu, que se organizou numa organização terrorista que atuava secretamente e lutava contra os colonizadores brancos que viviam em seu país, causando grande terror entre os membros dessa comunidade. Esse foco de rebelião foi sufocado apenas com a conquista da independência do país, em 1958.<br />A libertação da dominação colonial inglesa permitiu que chegasse ao poder o presidente Jomo Kenyatta, de origem Kikuyu. Kenyatta havia sido preso em 1953, onde permaneceu durante sete anos, sob a acusação de ser lider da revolta dos Mau Mau. Durante seu período de reclusão o presidente da recém libertada nação estudou o socialismo e criou uma versão própria dessa corrente política, adaptada a realidade africana.<br />Acreditava Kenyatta que o Quênia deveria adotar um socialismo que se aproximasse mais dos modelos escandinavos e britânico e não dos padrões adotados pelos russos ou pelos chineses. Advogava em favor do fim dos ressentimentos e tensões com os antigos colonizadores em prol da construção de um país melhor. Ao propor essas idéias, refutava os conceitos de luta de classes do marxismo clássico por entender que essa estrutura social não imperava na África. Em sua versão do socialismo, Kenyatta acreditava que seus compatriotas deveriam evitar que o poder e as riquezas de suas terras fossem apropriadas por indivíduos e grupos estrangeiros. Defendia-se também a participação plena e igualitária dos cidadãos na vida política nacional.<br />A Nigéria por sua vez, vivia assolada por denúncias de corrupção, desmandos e violência que se tornaram ainda mais devastadoras para o processo emancipatório local com o assassinato de seu primeiro-ministro e a ascensão de um governo militar em 1966. Para piorar ainda mais a situação um movimento separatista proclamou o surgimento da República de Biafra apenas um ano depois do estabelecimento dos militares no poder.<br />O país foi então tomado por uma guerra civil que se estendeu por três anos e vitimou mais de um milhão de pessoas. As maiores perdas não ocorreram nos campos de batalha e sim em virtude da fome e de doenças ocasionadas pela devastação do país. A derrota dos separatistas ocorreu apenas em 1970 e impediu a plena organização do país, um dos mais ricos em recursos minerais do continente africano (possui reservas de gás natural, carvão, petróleo e colúmbio – mineral utilizado para a produção do aço).<br />Havia também casos de países que realizaram sua independência sem que o poder fosse repassado para a maioria negra. Nesses casos a minoria branca concentrou as atribuições políticas, militares e econômicas e legou aos negros uma posição de submissão controlada a partir de um aparato de estado de caráter repressor.<br />Isso aconteceu, por exemplo, no Zimbábue (antiga Rodésia), onde a conquista da Independência levou ao poder o primeiro-ministro Ian Smith, que cortou todos os laços que uniam o país a metrópole inglesa, inclusive a participação na Comunidade Britânica. Essa atitude radical não promoveu, porém, o gradual repasse das atribuições políticas e econômicas à comunidade negra que formava a esmagadora maioria da população do país.<br />Acuado por pressões políticas externas, advindas principalmente da Inglaterra e dos Estados Unidos, Smith promoveu uma lenta abertura política a partir da qual se comprometeu a passar o poder político para os negros. Em 1979 o país teve o seu primeiro presidente negro eleito. Apesar disso as oposições mais radicais ao domínio dos brancos acreditavam que esse novo governo havia sido eleito de forma fraudulenta e que os componentes do governo eram apenas títeres controlados pelos brancos.<br />O mais célebre caso de governo despótico e racista aconteceu, no entanto, na África do Sul. Nesse país vigorou durante muitos anos o Apartheid, ou seja uma política discriminatória e extremamente preconceituosa em relação a comunidade negra que tinha respaldo não apenas dos dirigentes que controlavam o país, mas também da própria lei maior do país, a constituição.<br />Líderes nacionais que abertamente se posicionavam contra os abusos cometidos na África do Sul foram penalizados de forma brutal. Stephen Biko, influente defensor do protesto não violento foi assassinado na cadeia a partir do comando das principais autoridades do país. Ele realizava importante e expressiva campanha em prol da recuperação da auto-estima de seus compatriotas ao liderar protestos que tinham como principal bandeira o slogan “Black is beautiful”.<br />Nelson Mandela ficou encarcerado por décadas até que fosse libertado e pudesse se tornar o primeiro presidente negro da África do Sul já no início dos anos 1990. Desmond Tutu, bispo anglicano, respaldou-se na sua condição de religioso para proteger inimigos do estado racista e pregar abertamente contra o Apartheid em nível internacional. Apesar de seus esforços e de diversos outros ativistas a comunidade internacional que investia no país não apoiou de forma efetiva um boicote a África do Sul contra o racismo.<br />Outro caso contundente quanto as dificuldades dos países africanos para atingir autonomia plena foi o de Gana. Essa ex-colônia britânica, conhecida anteriormente como Costa do Ouro tornou-se independente em 1954. O líder do movimento emancipacionista foi Kwame Nkrumah (1909-1972), que apesar de suas origens humildes foi educado na Inglaterra e nos Estados Unidos.<br />Tinha fortes tendências socialistas e era um estudioso do marxismo, apesar disso nunca declarou formalmente ter aderido ao socialismo. Buscou apoio para algumas de suas políticas internas em Moscou. Acreditava que as tradições culturais africanas como as de seu próprio país não poderiam ser esquecidas em favor das influências européias. Centralizador, o presidente de Gana criou um regime político unipartidário. Investiu em ações de caráter social com a construção de hospitais e um importante trabalho na área educacional.<br />Foi deposto por um golpe militar sob a acusação de corrupção e da criação de um culto a sua própria personalidade. Esse golpe, conforme auferido posteriormente foi financiado pela CIA (Agência Central de Inteligência) dos Estados Unidos. A ação norte-americana fazia parte das estratégias de combate a expansão do comunismo internacional daquele país. O importante era derrotar os russos, o que aconteceria com a África pouco importava...<br />Foi no Congo, colônia da Bélgica, que ocorreu uma das mais duras e violentas revoltas do continente africano. Prevendo que os acontecimentos locais poderiam redundar num banho de sangue os colonizadores belgas concedeu a independência a seus súditos locais. Esse acontecimento desencadeou lutas internas que motivaram o surgimento de movimentos separatistas, com especial destaque para a revolta que ocorreu em Katanga.<br />Katanga era a principal fonte de renda do país com suas ricas minas de cobre, controladas por empresas belgas. Lideranças locais motivadas pela riqueza de seu subsolo iniciaram revolta contra o poder central do país e promoveram o assassinato de vários líderes nacionais, inclusive do líder esquerdista Patrice Lumumba. Para isso contaram com o auxílio da CIA, preocupada com a possibilidade dos comunistas tomarem o poder no país.<br />A ação do Conselho de Segurança da ONU impediu a continuidade da guerra civil no país, no entanto não impediu que a história daquela nação continuasse problemática e cheia de dificuldades já que em 1971 assumia o poder o ditador Mobutu, que mudou o nome daquela nação para Zaire.Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-51656074691352057362008-06-13T13:05:00.003-07:002008-06-13T13:06:30.640-07:00A Peste NegraA epidemia do fim dos temposA Peste Negra<br />No início do século XIV a China vivenciou uma epidemia mortal de peste bubônica. A peste ocorre em virtude de um bacilo, ou seja, um organismo presente no organismo dos ratos e que é repassado aos homens pelas pulgas que neles se hospedam. As pulgas em contato com o corpo humano regurgitam o sangue dos roedores e dessa forma a doença chega aos seres humanos. Assim que as primeiras pessoas são atingidas pela peste, a enfermidade se dissemina com grande rapidez.<br />Os sintomas dessa doença são a febre alta, a inflamação das glândulas linfáticas (chamadas popularmente de bubões), manchas na pele (vermelhas inicialmente e que depois se tornam negras). O nome da doença, Peste Bubônica, tem relação direta com a inflamação dos gânglios linfáticos e o seu nome deriva justamente da expressão Bubão.<br />Situações de subnutrição e desnutrição ou de qualquer outra doença no organismo de uma pessoa infectada tornam a possibilidade de sobrevivência a peste praticamente impossível. Há duas variações da enfermidade que os historiadores acreditam ter coexistido com a versão predominante naquele período, são elas: a praga que se estabelece no sangue e aquela que ataca os pulmões. São violentíssimas e as chances reais de uma pessoa resistir a essas variações da peste bubônica eram praticamente nulas.<br />Ao longo do século XIV, como resultado da peste na China, a população local decresceu consideravelmente, passando de 125 milhões de pessoas para uma quantidade estimada em 90 milhões. Como a China era uma das mais importantes e grandiosas nações comerciais do mundo naquela época, a doença acabou migrando através de seus navios mercantes para o restante do continente asiático e também para a Europa.<br />O canal de acesso para a doença entre os europeus foram alguns navios de cidades italianas que voltavam da Ásia pelo Mar Negro, uma das principais rotas de comércio que ligavam o Velho Mundo as especiarias e produtos oriundos dos principais pólos produtores da Índia, China, Arábia,...<br />Quando os navios atracaram na Sicília muitos dos tripulantes já estavam em avançado estágio de contaminação pela peste bubônica. Estavam morrendo ou infectados. Não demorou muito para que a doença trazida pelos marinheiros dos mercantes italianos se espalhasse pelas cidades da região e também na zona rural.<br />De acordo com relatos da época, apavorados muitos habitantes das regiões infectadas fugiram de suas cidades, vilas, aldeias e feudos. Mas a doença não ficou para trás. Não sabiam tais pessoas que a contaminação de um único ser entre todos eles fazia com que a peste os acompanhasse por onde fossem. A situação ficou tão desesperadora que muitos pais estavam deixando para trás seus filhos. Religiosos que ficavam encarregados de cuidar dos enfermos também abandonavam seus postos largando os moribundos a sua própria sorte. Seus mosteiros, abadias e conventos eram abandonados depois do surgimento dos primeiros sinais de que também eles, representantes de Deus na Terra estavam com a peste. Nem mesmo advogados, responsáveis pela criação de testamentos dos doentes se atreviam a permanecer por perto para realizar o trabalho que deles era esperado.<br />Os corpos se avolumavam nas casas abandonadas e não lhes era dada nem mesmo a possibilidade de um enterro cristão. O resultado da epidemia era tão devastador que um comentarista célebre daquele período, o escritor italiano Boccaccio chegou a dizer que as vítimas frequentemente “almoçavam com os amigos e jantavam com seus ancestrais”.<br />Apenas alguns meses foram suficientes para que a peste bubônica chegasse à Inglaterra, no norte da Europa. Ao atingir essa região do continente, a doença passou a ser chamada de Peste Negra, em alusão as manchas dessa cor que apareciam na pele dos enfermos. Para piorar, a atrasada medicina do período medieval não tinha instrumentos e remédios adequados para realizar um eficiente combate contra a praga que devastava todas as localidades por onde passava. No inverno a doença parecia estar desaparecendo. O que estava acontecendo é que nessa estação do ano, as principais propagadoras da peste bubônica, ou seja, as pulgas dos ratos estavam em seu período de dormência. Quando chegava a primavera, novamente começavam os ciclos de infestação e propagação das chagas promovidas pela Peste Negra.<br />Depois de apenas 5 anos, calcula-se que aproximadamente 25 milhões de pessoas haviam perecido. Isso equivalia, à época, a um terço da população européia. A morte de contingente tão grandioso de pessoas na Europa provocou conseqüências sérias que afetaram a vida local por alguns séculos. Faltavam trabalhadores para a realização da labuta no campo. Isso motivou os camponeses a exigir dos senhores feudais a diminuição dos encargos feudais e um aumento de seus ganhos. A recusa dos proprietários das terras em aceitar essas exigências levou os servos a violentas revoltas que aconteceram em vários países, como a Itália, a França, a Inglaterra e os Países Baixos.<br />Nas cidades faltavam pessoas para trabalhar no comércio e nas oficinas de artesãos especializados. O comércio declinava. Os trabalhadores que haviam sobrevivido exigiam melhores salários e condições de trabalho. Seus patrões, que haviam perdido muito dinheiro com o fechamento temporário de seus estabelecimentos não tinham como atender essa demanda.<br />Também a Igreja Católica perdeu credibilidade junto aos fiéis por conta das perdas da Peste Negra. As orações e celebrações em que se pedia o fim da epidemia no continente não foram atendidas pelos céus e, como resultado dessa resposta divina que nunca chegou, as pessoas foram estimuladas a aderir aos movimentos que começavam a questionar a Igreja Católica em suas bases, dogmas, saberes e proposições.<br />Contrariando o que muitas pessoas pensam a respeito daquele período, as autoridades públicas de algumas localidades não agiram como se a Peste Negra fosse um castigo divino contra a humanidade e encararam o problema como uma questão de saúde pública. Não possuíam muitos recursos para combater o problema, mas tentaram se organizar para debelar a epidemia.<br />Em Milão, por exemplo, os representantes do poder público lacraram residências de pessoas que estavam contaminadas para evitar o contato das mesmas com pessoas saudáveis. Dessa forma pretendiam que o contágio da enfermidade não acontecesse. Em Veneza foram adotadas medidas como a quarentena e o isolamento das embarcações que chegavam à cidade em uma ilha para evitar que novos focos da peste bubônica pudessem surgir. Apesar de não conseguirem evitar as mortes em seus municípios, tais medidas tornaram a quantidade de vítimas inferior ao de outras cidades da Europa que não haviam tomado qualquer providência para combater a doença.<br />O ímpeto da Peste Negra diminuiu com o passar do tempo, mas ciclos esporádicos e isolados continuavam a ocorrer de tempos em tempos. Isso ainda se repetiria ao longo de mais alguns séculos e o desaparecimento da enfermidade do mapa da Europa só aconteceu mesmo no século XVII.<br /><br />Atividades – Leia o texto com atenção depois responda.<br />1. Faça um relato que contenha as seguintes informações:<br />a) O que foi a peste bubônica?<br />b) Em que época e lugar ela surgiu?<br />c) Quais eram os seus sintomas?<br />d) Como ela se espalhou pela Europa?<br /><br />2. Cite quais foram as conseqüências dessa epidemia para a China e os países europeus? Escolha uma delas e faça um comentário.Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-3420218023848572122008-06-13T13:05:00.002-07:002008-06-13T13:06:27.685-07:00A Peste NegraA epidemia do fim dos temposA Peste Negra<br />No início do século XIV a China vivenciou uma epidemia mortal de peste bubônica. A peste ocorre em virtude de um bacilo, ou seja, um organismo presente no organismo dos ratos e que é repassado aos homens pelas pulgas que neles se hospedam. As pulgas em contato com o corpo humano regurgitam o sangue dos roedores e dessa forma a doença chega aos seres humanos. Assim que as primeiras pessoas são atingidas pela peste, a enfermidade se dissemina com grande rapidez.<br />Os sintomas dessa doença são a febre alta, a inflamação das glândulas linfáticas (chamadas popularmente de bubões), manchas na pele (vermelhas inicialmente e que depois se tornam negras). O nome da doença, Peste Bubônica, tem relação direta com a inflamação dos gânglios linfáticos e o seu nome deriva justamente da expressão Bubão.<br />Situações de subnutrição e desnutrição ou de qualquer outra doença no organismo de uma pessoa infectada tornam a possibilidade de sobrevivência a peste praticamente impossível. Há duas variações da enfermidade que os historiadores acreditam ter coexistido com a versão predominante naquele período, são elas: a praga que se estabelece no sangue e aquela que ataca os pulmões. São violentíssimas e as chances reais de uma pessoa resistir a essas variações da peste bubônica eram praticamente nulas.<br />Ao longo do século XIV, como resultado da peste na China, a população local decresceu consideravelmente, passando de 125 milhões de pessoas para uma quantidade estimada em 90 milhões. Como a China era uma das mais importantes e grandiosas nações comerciais do mundo naquela época, a doença acabou migrando através de seus navios mercantes para o restante do continente asiático e também para a Europa.<br />O canal de acesso para a doença entre os europeus foram alguns navios de cidades italianas que voltavam da Ásia pelo Mar Negro, uma das principais rotas de comércio que ligavam o Velho Mundo as especiarias e produtos oriundos dos principais pólos produtores da Índia, China, Arábia,...<br />Quando os navios atracaram na Sicília muitos dos tripulantes já estavam em avançado estágio de contaminação pela peste bubônica. Estavam morrendo ou infectados. Não demorou muito para que a doença trazida pelos marinheiros dos mercantes italianos se espalhasse pelas cidades da região e também na zona rural.<br />De acordo com relatos da época, apavorados muitos habitantes das regiões infectadas fugiram de suas cidades, vilas, aldeias e feudos. Mas a doença não ficou para trás. Não sabiam tais pessoas que a contaminação de um único ser entre todos eles fazia com que a peste os acompanhasse por onde fossem. A situação ficou tão desesperadora que muitos pais estavam deixando para trás seus filhos. Religiosos que ficavam encarregados de cuidar dos enfermos também abandonavam seus postos largando os moribundos a sua própria sorte. Seus mosteiros, abadias e conventos eram abandonados depois do surgimento dos primeiros sinais de que também eles, representantes de Deus na Terra estavam com a peste. Nem mesmo advogados, responsáveis pela criação de testamentos dos doentes se atreviam a permanecer por perto para realizar o trabalho que deles era esperado.<br />Os corpos se avolumavam nas casas abandonadas e não lhes era dada nem mesmo a possibilidade de um enterro cristão. O resultado da epidemia era tão devastador que um comentarista célebre daquele período, o escritor italiano Boccaccio chegou a dizer que as vítimas frequentemente “almoçavam com os amigos e jantavam com seus ancestrais”.<br />Apenas alguns meses foram suficientes para que a peste bubônica chegasse à Inglaterra, no norte da Europa. Ao atingir essa região do continente, a doença passou a ser chamada de Peste Negra, em alusão as manchas dessa cor que apareciam na pele dos enfermos. Para piorar, a atrasada medicina do período medieval não tinha instrumentos e remédios adequados para realizar um eficiente combate contra a praga que devastava todas as localidades por onde passava. No inverno a doença parecia estar desaparecendo. O que estava acontecendo é que nessa estação do ano, as principais propagadoras da peste bubônica, ou seja, as pulgas dos ratos estavam em seu período de dormência. Quando chegava a primavera, novamente começavam os ciclos de infestação e propagação das chagas promovidas pela Peste Negra.<br />Depois de apenas 5 anos, calcula-se que aproximadamente 25 milhões de pessoas haviam perecido. Isso equivalia, à época, a um terço da população européia. A morte de contingente tão grandioso de pessoas na Europa provocou conseqüências sérias que afetaram a vida local por alguns séculos. Faltavam trabalhadores para a realização da labuta no campo. Isso motivou os camponeses a exigir dos senhores feudais a diminuição dos encargos feudais e um aumento de seus ganhos. A recusa dos proprietários das terras em aceitar essas exigências levou os servos a violentas revoltas que aconteceram em vários países, como a Itália, a França, a Inglaterra e os Países Baixos.<br />Nas cidades faltavam pessoas para trabalhar no comércio e nas oficinas de artesãos especializados. O comércio declinava. Os trabalhadores que haviam sobrevivido exigiam melhores salários e condições de trabalho. Seus patrões, que haviam perdido muito dinheiro com o fechamento temporário de seus estabelecimentos não tinham como atender essa demanda.<br />Também a Igreja Católica perdeu credibilidade junto aos fiéis por conta das perdas da Peste Negra. As orações e celebrações em que se pedia o fim da epidemia no continente não foram atendidas pelos céus e, como resultado dessa resposta divina que nunca chegou, as pessoas foram estimuladas a aderir aos movimentos que começavam a questionar a Igreja Católica em suas bases, dogmas, saberes e proposições.<br />Contrariando o que muitas pessoas pensam a respeito daquele período, as autoridades públicas de algumas localidades não agiram como se a Peste Negra fosse um castigo divino contra a humanidade e encararam o problema como uma questão de saúde pública. Não possuíam muitos recursos para combater o problema, mas tentaram se organizar para debelar a epidemia.<br />Em Milão, por exemplo, os representantes do poder público lacraram residências de pessoas que estavam contaminadas para evitar o contato das mesmas com pessoas saudáveis. Dessa forma pretendiam que o contágio da enfermidade não acontecesse. Em Veneza foram adotadas medidas como a quarentena e o isolamento das embarcações que chegavam à cidade em uma ilha para evitar que novos focos da peste bubônica pudessem surgir. Apesar de não conseguirem evitar as mortes em seus municípios, tais medidas tornaram a quantidade de vítimas inferior ao de outras cidades da Europa que não haviam tomado qualquer providência para combater a doença.<br />O ímpeto da Peste Negra diminuiu com o passar do tempo, mas ciclos esporádicos e isolados continuavam a ocorrer de tempos em tempos. Isso ainda se repetiria ao longo de mais alguns séculos e o desaparecimento da enfermidade do mapa da Europa só aconteceu mesmo no século XVII.<br /><br />Atividades – Leia o texto com atenção depois responda.<br />1. Faça um relato que contenha as seguintes informações:<br />a) O que foi a peste bubônica?<br />b) Em que época e lugar ela surgiu?<br />c) Quais eram os seus sintomas?<br />d) Como ela se espalhou pela Europa?<br /><br />2. Cite quais foram as conseqüências dessa epidemia para a China e os países europeus? Escolha uma delas e faça um comentário.Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-7543903285596463552008-06-13T13:05:00.001-07:002008-06-13T13:06:25.530-07:00A Peste NegraA epidemia do fim dos temposA Peste Negra<br />No início do século XIV a China vivenciou uma epidemia mortal de peste bubônica. A peste ocorre em virtude de um bacilo, ou seja, um organismo presente no organismo dos ratos e que é repassado aos homens pelas pulgas que neles se hospedam. As pulgas em contato com o corpo humano regurgitam o sangue dos roedores e dessa forma a doença chega aos seres humanos. Assim que as primeiras pessoas são atingidas pela peste, a enfermidade se dissemina com grande rapidez.<br />Os sintomas dessa doença são a febre alta, a inflamação das glândulas linfáticas (chamadas popularmente de bubões), manchas na pele (vermelhas inicialmente e que depois se tornam negras). O nome da doença, Peste Bubônica, tem relação direta com a inflamação dos gânglios linfáticos e o seu nome deriva justamente da expressão Bubão.<br />Situações de subnutrição e desnutrição ou de qualquer outra doença no organismo de uma pessoa infectada tornam a possibilidade de sobrevivência a peste praticamente impossível. Há duas variações da enfermidade que os historiadores acreditam ter coexistido com a versão predominante naquele período, são elas: a praga que se estabelece no sangue e aquela que ataca os pulmões. São violentíssimas e as chances reais de uma pessoa resistir a essas variações da peste bubônica eram praticamente nulas.<br />Ao longo do século XIV, como resultado da peste na China, a população local decresceu consideravelmente, passando de 125 milhões de pessoas para uma quantidade estimada em 90 milhões. Como a China era uma das mais importantes e grandiosas nações comerciais do mundo naquela época, a doença acabou migrando através de seus navios mercantes para o restante do continente asiático e também para a Europa.<br />O canal de acesso para a doença entre os europeus foram alguns navios de cidades italianas que voltavam da Ásia pelo Mar Negro, uma das principais rotas de comércio que ligavam o Velho Mundo as especiarias e produtos oriundos dos principais pólos produtores da Índia, China, Arábia,...<br />Quando os navios atracaram na Sicília muitos dos tripulantes já estavam em avançado estágio de contaminação pela peste bubônica. Estavam morrendo ou infectados. Não demorou muito para que a doença trazida pelos marinheiros dos mercantes italianos se espalhasse pelas cidades da região e também na zona rural.<br />De acordo com relatos da época, apavorados muitos habitantes das regiões infectadas fugiram de suas cidades, vilas, aldeias e feudos. Mas a doença não ficou para trás. Não sabiam tais pessoas que a contaminação de um único ser entre todos eles fazia com que a peste os acompanhasse por onde fossem. A situação ficou tão desesperadora que muitos pais estavam deixando para trás seus filhos. Religiosos que ficavam encarregados de cuidar dos enfermos também abandonavam seus postos largando os moribundos a sua própria sorte. Seus mosteiros, abadias e conventos eram abandonados depois do surgimento dos primeiros sinais de que também eles, representantes de Deus na Terra estavam com a peste. Nem mesmo advogados, responsáveis pela criação de testamentos dos doentes se atreviam a permanecer por perto para realizar o trabalho que deles era esperado.<br />Os corpos se avolumavam nas casas abandonadas e não lhes era dada nem mesmo a possibilidade de um enterro cristão. O resultado da epidemia era tão devastador que um comentarista célebre daquele período, o escritor italiano Boccaccio chegou a dizer que as vítimas frequentemente “almoçavam com os amigos e jantavam com seus ancestrais”.<br />Apenas alguns meses foram suficientes para que a peste bubônica chegasse à Inglaterra, no norte da Europa. Ao atingir essa região do continente, a doença passou a ser chamada de Peste Negra, em alusão as manchas dessa cor que apareciam na pele dos enfermos. Para piorar, a atrasada medicina do período medieval não tinha instrumentos e remédios adequados para realizar um eficiente combate contra a praga que devastava todas as localidades por onde passava. No inverno a doença parecia estar desaparecendo. O que estava acontecendo é que nessa estação do ano, as principais propagadoras da peste bubônica, ou seja, as pulgas dos ratos estavam em seu período de dormência. Quando chegava a primavera, novamente começavam os ciclos de infestação e propagação das chagas promovidas pela Peste Negra.<br />Depois de apenas 5 anos, calcula-se que aproximadamente 25 milhões de pessoas haviam perecido. Isso equivalia, à época, a um terço da população européia. A morte de contingente tão grandioso de pessoas na Europa provocou conseqüências sérias que afetaram a vida local por alguns séculos. Faltavam trabalhadores para a realização da labuta no campo. Isso motivou os camponeses a exigir dos senhores feudais a diminuição dos encargos feudais e um aumento de seus ganhos. A recusa dos proprietários das terras em aceitar essas exigências levou os servos a violentas revoltas que aconteceram em vários países, como a Itália, a França, a Inglaterra e os Países Baixos.<br />Nas cidades faltavam pessoas para trabalhar no comércio e nas oficinas de artesãos especializados. O comércio declinava. Os trabalhadores que haviam sobrevivido exigiam melhores salários e condições de trabalho. Seus patrões, que haviam perdido muito dinheiro com o fechamento temporário de seus estabelecimentos não tinham como atender essa demanda.<br />Também a Igreja Católica perdeu credibilidade junto aos fiéis por conta das perdas da Peste Negra. As orações e celebrações em que se pedia o fim da epidemia no continente não foram atendidas pelos céus e, como resultado dessa resposta divina que nunca chegou, as pessoas foram estimuladas a aderir aos movimentos que começavam a questionar a Igreja Católica em suas bases, dogmas, saberes e proposições.<br />Contrariando o que muitas pessoas pensam a respeito daquele período, as autoridades públicas de algumas localidades não agiram como se a Peste Negra fosse um castigo divino contra a humanidade e encararam o problema como uma questão de saúde pública. Não possuíam muitos recursos para combater o problema, mas tentaram se organizar para debelar a epidemia.<br />Em Milão, por exemplo, os representantes do poder público lacraram residências de pessoas que estavam contaminadas para evitar o contato das mesmas com pessoas saudáveis. Dessa forma pretendiam que o contágio da enfermidade não acontecesse. Em Veneza foram adotadas medidas como a quarentena e o isolamento das embarcações que chegavam à cidade em uma ilha para evitar que novos focos da peste bubônica pudessem surgir. Apesar de não conseguirem evitar as mortes em seus municípios, tais medidas tornaram a quantidade de vítimas inferior ao de outras cidades da Europa que não haviam tomado qualquer providência para combater a doença.<br />O ímpeto da Peste Negra diminuiu com o passar do tempo, mas ciclos esporádicos e isolados continuavam a ocorrer de tempos em tempos. Isso ainda se repetiria ao longo de mais alguns séculos e o desaparecimento da enfermidade do mapa da Europa só aconteceu mesmo no século XVII.<br /><br />Atividades – Leia o texto com atenção depois responda.<br />1. Faça um relato que contenha as seguintes informações:<br />a) O que foi a peste bubônica?<br />b) Em que época e lugar ela surgiu?<br />c) Quais eram os seus sintomas?<br />d) Como ela se espalhou pela Europa?<br /><br />2. Cite quais foram as conseqüências dessa epidemia para a China e os países europeus? Escolha uma delas e faça um comentário.Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-51760084550579171662008-06-13T13:05:00.000-07:002008-06-13T13:06:20.096-07:00A Peste NegraA epidemia do fim dos temposA Peste Negra<br />No início do século XIV a China vivenciou uma epidemia mortal de peste bubônica. A peste ocorre em virtude de um bacilo, ou seja, um organismo presente no organismo dos ratos e que é repassado aos homens pelas pulgas que neles se hospedam. As pulgas em contato com o corpo humano regurgitam o sangue dos roedores e dessa forma a doença chega aos seres humanos. Assim que as primeiras pessoas são atingidas pela peste, a enfermidade se dissemina com grande rapidez.<br />Os sintomas dessa doença são a febre alta, a inflamação das glândulas linfáticas (chamadas popularmente de bubões), manchas na pele (vermelhas inicialmente e que depois se tornam negras). O nome da doença, Peste Bubônica, tem relação direta com a inflamação dos gânglios linfáticos e o seu nome deriva justamente da expressão Bubão.<br />Situações de subnutrição e desnutrição ou de qualquer outra doença no organismo de uma pessoa infectada tornam a possibilidade de sobrevivência a peste praticamente impossível. Há duas variações da enfermidade que os historiadores acreditam ter coexistido com a versão predominante naquele período, são elas: a praga que se estabelece no sangue e aquela que ataca os pulmões. São violentíssimas e as chances reais de uma pessoa resistir a essas variações da peste bubônica eram praticamente nulas.<br />Ao longo do século XIV, como resultado da peste na China, a população local decresceu consideravelmente, passando de 125 milhões de pessoas para uma quantidade estimada em 90 milhões. Como a China era uma das mais importantes e grandiosas nações comerciais do mundo naquela época, a doença acabou migrando através de seus navios mercantes para o restante do continente asiático e também para a Europa.<br />O canal de acesso para a doença entre os europeus foram alguns navios de cidades italianas que voltavam da Ásia pelo Mar Negro, uma das principais rotas de comércio que ligavam o Velho Mundo as especiarias e produtos oriundos dos principais pólos produtores da Índia, China, Arábia,...<br />Quando os navios atracaram na Sicília muitos dos tripulantes já estavam em avançado estágio de contaminação pela peste bubônica. Estavam morrendo ou infectados. Não demorou muito para que a doença trazida pelos marinheiros dos mercantes italianos se espalhasse pelas cidades da região e também na zona rural.<br />De acordo com relatos da época, apavorados muitos habitantes das regiões infectadas fugiram de suas cidades, vilas, aldeias e feudos. Mas a doença não ficou para trás. Não sabiam tais pessoas que a contaminação de um único ser entre todos eles fazia com que a peste os acompanhasse por onde fossem. A situação ficou tão desesperadora que muitos pais estavam deixando para trás seus filhos. Religiosos que ficavam encarregados de cuidar dos enfermos também abandonavam seus postos largando os moribundos a sua própria sorte. Seus mosteiros, abadias e conventos eram abandonados depois do surgimento dos primeiros sinais de que também eles, representantes de Deus na Terra estavam com a peste. Nem mesmo advogados, responsáveis pela criação de testamentos dos doentes se atreviam a permanecer por perto para realizar o trabalho que deles era esperado.<br />Os corpos se avolumavam nas casas abandonadas e não lhes era dada nem mesmo a possibilidade de um enterro cristão. O resultado da epidemia era tão devastador que um comentarista célebre daquele período, o escritor italiano Boccaccio chegou a dizer que as vítimas frequentemente “almoçavam com os amigos e jantavam com seus ancestrais”.<br />Apenas alguns meses foram suficientes para que a peste bubônica chegasse à Inglaterra, no norte da Europa. Ao atingir essa região do continente, a doença passou a ser chamada de Peste Negra, em alusão as manchas dessa cor que apareciam na pele dos enfermos. Para piorar, a atrasada medicina do período medieval não tinha instrumentos e remédios adequados para realizar um eficiente combate contra a praga que devastava todas as localidades por onde passava. No inverno a doença parecia estar desaparecendo. O que estava acontecendo é que nessa estação do ano, as principais propagadoras da peste bubônica, ou seja, as pulgas dos ratos estavam em seu período de dormência. Quando chegava a primavera, novamente começavam os ciclos de infestação e propagação das chagas promovidas pela Peste Negra.<br />Depois de apenas 5 anos, calcula-se que aproximadamente 25 milhões de pessoas haviam perecido. Isso equivalia, à época, a um terço da população européia. A morte de contingente tão grandioso de pessoas na Europa provocou conseqüências sérias que afetaram a vida local por alguns séculos. Faltavam trabalhadores para a realização da labuta no campo. Isso motivou os camponeses a exigir dos senhores feudais a diminuição dos encargos feudais e um aumento de seus ganhos. A recusa dos proprietários das terras em aceitar essas exigências levou os servos a violentas revoltas que aconteceram em vários países, como a Itália, a França, a Inglaterra e os Países Baixos.<br />Nas cidades faltavam pessoas para trabalhar no comércio e nas oficinas de artesãos especializados. O comércio declinava. Os trabalhadores que haviam sobrevivido exigiam melhores salários e condições de trabalho. Seus patrões, que haviam perdido muito dinheiro com o fechamento temporário de seus estabelecimentos não tinham como atender essa demanda.<br />Também a Igreja Católica perdeu credibilidade junto aos fiéis por conta das perdas da Peste Negra. As orações e celebrações em que se pedia o fim da epidemia no continente não foram atendidas pelos céus e, como resultado dessa resposta divina que nunca chegou, as pessoas foram estimuladas a aderir aos movimentos que começavam a questionar a Igreja Católica em suas bases, dogmas, saberes e proposições.<br />Contrariando o que muitas pessoas pensam a respeito daquele período, as autoridades públicas de algumas localidades não agiram como se a Peste Negra fosse um castigo divino contra a humanidade e encararam o problema como uma questão de saúde pública. Não possuíam muitos recursos para combater o problema, mas tentaram se organizar para debelar a epidemia.<br />Em Milão, por exemplo, os representantes do poder público lacraram residências de pessoas que estavam contaminadas para evitar o contato das mesmas com pessoas saudáveis. Dessa forma pretendiam que o contágio da enfermidade não acontecesse. Em Veneza foram adotadas medidas como a quarentena e o isolamento das embarcações que chegavam à cidade em uma ilha para evitar que novos focos da peste bubônica pudessem surgir. Apesar de não conseguirem evitar as mortes em seus municípios, tais medidas tornaram a quantidade de vítimas inferior ao de outras cidades da Europa que não haviam tomado qualquer providência para combater a doença.<br />O ímpeto da Peste Negra diminuiu com o passar do tempo, mas ciclos esporádicos e isolados continuavam a ocorrer de tempos em tempos. Isso ainda se repetiria ao longo de mais alguns séculos e o desaparecimento da enfermidade do mapa da Europa só aconteceu mesmo no século XVII.<br /><br />Atividades – Leia o texto com atenção depois responda.<br />1. Faça um relato que contenha as seguintes informações:<br />a) O que foi a peste bubônica?<br />b) Em que época e lugar ela surgiu?<br />c) Quais eram os seus sintomas?<br />d) Como ela se espalhou pela Europa?<br /><br />2. Cite quais foram as conseqüências dessa epidemia para a China e os países europeus? Escolha uma delas e faça um comentário.Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-28869077584185126262008-06-13T12:35:00.000-07:002008-06-13T12:36:00.036-07:00Guerra do VietnãQueimados pelo Napalm300 toneladas de bombas para cada cidadão do Vietnã<br />Bombas e artefatos incendiários, essa foi à realidade do Vietnã do Norte durante as décadas de 1960 e 1970. A guerra travada entre o sul e o norte desse longínquo país asiático foi uma das principais notícias mundiais do período, pois colocava em campos opostos as ideologias capitalista e socialista. Era a força dos norte-americanos a favor dos sul-coreanos enquanto os soviéticos, sem se envolverem diretamente no conflito, davam suporte e condições para a reação norte-coreana.<br />Guerra que marca o maior revés norte-americano em conflitos bélicos desde a independência desse país, o conflito no Vietnã não acarretou prejuízos apenas para os Estados Unidos. Os maiores sofredores foram os próprios vietnamitas (especialmente os norte-vietnamitas), submetidos a supremacia tecnológica e material dos americanos, sofreram com os constantes ataques desferidos pelos bombardeiros B-52 que despejaram imensas quantidades de explosivos sobre todo o seu território.<br />Para se ter uma idéia do poder de destruição desses armamentos, basta lembrar que a quantidade de bombas lançadas sobre o Vietnã supera em três vezes o montante de explosivos utilizados na 2ª Guerra Mundial.<br />Além disso, calculam os especialistas nesse conflito, que para cada habitante do Vietnã foram lançados no território do país o equivalente a 300 toneladas de material explosivo (mesmo levando-se em conta as populações civis, que não participavam diretamente da guerra, inclusive as mulheres, os idosos e as crianças). Um verdadeiro massacre!<br />O mais conhecido recurso utilizado pelas tropas norte-americanas contra seus oponentes vietcongues (como eram chamados os norte-vietnamitas pelos soldados do Tio Sam) foi uma arma química conhecida como Napalm. Era uma mistura de petróleo com reagentes químicos que tinha o formato de um gel grudento que ficava retido na pele daqueles que fossem atingidos pelo mesmo.<br />Entre os produtos químicos que faziam parte da composição do Napalm estava o phosphorus branco que provocava a reação de queimaduras terríveis. Os efeitos eram prolongados e há relatos de que mais da metade das vítimas atingidas por essa poderosa combinação destrutiva tinham queimaduras de 5º grau (que atingiam os músculos e até mesmo os ossos). As dores e a intensidade da corrosão causada ao organismo pelo Napalm provocava muitas mortes.<br />Outro armamento despejado dos aviões norte-americanos eram as bombas ‘abacaxi’. Consistiam em um pequeno invólucro metálico que tinha ao seu redor cerca de 250 pinos ou grânulos. Em cada ataque eram jogados alguns milhares de ‘abacaxis’ sobre áreas inimigas para atingir tudo aquilo que estivesse nas proximidades onde caíssem essas armas. Uma vez atingidos os alvos, essa massa metálica com pinos ou grânulos se alojava nos corpos dos inimigos e os lesionava de forma definitiva ou acabava matando muitos deles.<br />Há relatos de outros recursos assemelhados as bombas ‘abacaxi’ feitas com material plástico. Aparentemente menos danosas ao organismo, na realidade provocavam o mesmo impacto, adentrando a pele dos atingidos, inutilizando alguns de seus membros, danificando certos órgãos vitais, aleijando muitos soldados do oponente. De acordo com alguns analistas, ao utilizar tais tipos de armas lançadas de seus grandes bombardeiros, os norte-americanos queriam provocar um prejuízo ainda maior em seus inimigos do que aquele causado por um grande número de baixas militares ou civis.Calculavam os articuladores dos ataques ianques que as pessoas feridas, mutiladas e incapacitadas de trabalhar acabariam se tornando custos permanentes para os governos norte-coreanos e não seriam capazes de reverter qualquer lucro para o sistema socialista que se pretendia implantar naquele país.<br />O maior dos inimigos enfrentados pelos soldados norte-americanos na Guerra do Vietnã era, no entanto, praticamente invisível aos olhos de seus pelotões. Protegidos pelo grande conhecimento que tinham das florestas de seu país, os vietcongues armavam ataques surpreendentes e suicidas e, dessa forma, conseguiam aniquilar muitos de seus opositores (atuavam dentro da tática de guerrilhas).<br />A resposta encontrada para lidar com tal problema foi a utilização de uma gigantesca quantidade de armas químicas e biológicas contra o Vietnã. Foram lançados contra aquele país aproximadamente 72 milhões de litros de produtos químicos (dos quais 66% era o temível ‘agente laranja’).<br />Para resolver esse problema foi aprovada pelo governo norte-americano a operação Ranch Hand. O referendo das autoridades permitia que as forças armadas norte-americanas lançassem sobre as florestas do Vietnã do Norte um produto químico conhecido como ‘Agente Laranja’. O objetivo principal era atingir os rebeldes da Frente de Libertação Nacional e para isso, o ‘agente laranja’ foi lançado sobre uma área de mais de um milhão de hectares. Esse produto corrói as folhas, queimando-as e destruindo-as para que a cobertura vegetal não pudesse ser utilizada como esconderijo para as tropas da Frente de Libertação. O problema é que esse produto não apenas causa um considerável desastre ambiental como também, impregnado ao corpo de seres humanos provoca prejuízos genéticos.<br />Outra forma de combate utilizada pelos oponentes dos vietcongues foi a destruição de mais de 650 mil acres de terra cultivada entre os anos de 1962 e 1969. Para tal ação os americanos utilizaram o ‘agente azul’. Essa tática de guerra tinha como objetivo primordial literalmente ‘matar de fome’ os representantes das forças rebeldes e opositoras a presença do contingente militar dos Estados Unidos naquele país.<br />Mesmo quando as notícias relativas ao uso de armas químicas foram divulgadas publicamente, os norte-americanos trataram de se defender afirmando que produtos como o ‘agente laranja’ ou o ‘agente azul’ não causavam danos as pessoas, somente ao meio-ambiente.<br />Essas afirmações das autoridades norte-americanas foram frontalmente combatidas pela comunidade científica internacional, inclusive por mais de 5 mil cientistas dos Estados Unidos e 17 vencedores do prêmio Nobel. Todos eles assinaram petições contra a utilização de armas químicas e biológicas na Guerra do Vietnã. Isso só deixou de acontecer em 1974, praticamente no apagar das luzes daquele sangrento conflito.<br />As conseqüências relacionadas a utilização desses produtos na guerra contra os vietcongues atingiu também os soldados norte-americanos. Muitos deles vieram a ter filhos com sérios problemas de pele ou ainda com a Síndrome de Down, situações comprovadamente causadas pelo contato de seus pais com produtos como o ‘napalm’, o ‘agente azul’ ou o ‘agente laranja’.<br />Os fabricantes desses produtos para a guerra foram posteriormente processados pelos próprios soldados americanos afetados em sua saúde pelo contato direto e pela proximidade com esses tóxicos. Isso rendeu aos veteranos da guerra indenizações que chegaram a um montante final de 180 milhões de dólares.<br />Além disso, a natureza do Vietnã sofreu revezes que continuam a afetar a vida econômica do país até os dias de hoje. Todos aqueles produtos químicos despejados sobre o país infectaram o solo e também os lençóis freáticos. A produção de alimentos, a sobrevivência de uma grande quantidade de espécies animais e vegetais e a própria manutenção da sociedade vietnamita se tornaram tarefas muito árduas e, em determinadas regiões, praticamente impossível durante muitos anos. Gerações posteriores de cidadãos do Vietnã do Norte continuam tendo problemas diretamente ligados à ingestão de gases ou líquidos provenientes das bombas americanas...Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-7747230940655442002008-06-13T12:34:00.000-07:002008-06-13T12:35:09.758-07:00Revolução IndustrialCondições de Trabalho na Revolução Industrial -A saúde dos operários em risco constante...<br /> “O barulho e o movimento das máquinas, que são desagradáveis e confusos para os espectadores não acostumados àquela cena, não produzem o menor efeito nos operários habituados a essa realidade. As únicas coisas que fazem com que os trabalhadores das fábricas padeçam são o confinamento por longas horas e a ausência de ar fresco: isso os deixa pálidos, reduz o vigor físico deles, mas raramente os deixa doentes. As diminutas fibras de algodão que flutuam nos ambientes são entendidas, mesmo pelos médicos, como não prejudiciais aos jovens que ali trabalham.” [Edward Blaine, em seu livro “The history of cotton manufacture”, de 1835].<br />Entre num lugar muito barulhento e povoado por máquinas que sacodem e sacolejam a todo o momento, deixando no ar uma constante sensação de insegurança e de receio quanto a um provável acidente. Feche os olhos durante alguns segundos. A sensação de medo se torna ainda maior.<br />Agora pense numa outra situação. Imagine-se pai ou mãe de 3, 4 ou até 5 filhos. Você acabou de migrar da zona rural para a cidade, não possui conhecimentos técnicos que o diferenciem dos milhares de outros migrantes que acabou de chegar à metrópole. Tampouco pode contar com o apoio de familiares ou amigos para conseguir algum emprego razoável já que todas as pessoas que conhece estão em situação semelhante a sua.<br />Uma fábrica recém-aberta abre vagas para trabalhadores com pouca ou nenhuma qualificação. Precisam de mão de obra barata e sabem que há milhares de pessoas recém-chegadas à cidade que necessitam de trabalho para sobreviver. Quais são as condições de trabalho? Quanto será o pagamento por hora? Que tipo de função será necessário executar? E a jornada de trabalho, durará quantas horas? Essas são algumas perguntas que hoje qualquer futuro empregado em uma firma tem que fazer...<br />Se fossem feitas por um operário do período inicial da industrialização mundial ocorrida na Europa entre a segunda metade do século XVIII e XIX acarretariam sua imediata dispensa da fila de proponentes a uma oportunidade de trabalho. Por isso a adaptação a barulhos aparentemente insuportáveis aos ouvidos humanos e que, certamente, causam danos à audição – ou ainda a concordância em trabalhar com máquinas que tinham um altíssimo risco de acidentes, era a normalidade daqueles tempos.<br />“Uma das grandes causas de doenças em operários nas fábricas é a fumaça e o cal que estão continuamente voando (flutuando) nos arredores. Peles de animais são socadas em uma forte solução de cal. Esse produto se mistura com a lã e o cabelo. Tudo é depois colocado numa máquina de desfiar lã para extrair a cal e a poeira. A máquina, e tudo ao seu redor, são então cobertas com cal e poeira. O resultado é a dificuldade de respirar, a asma,...” [William Dodd, em seu livro “A narrative of William Dodd: A factory Cripple”, de 1841].<br />Imagine-se então naquele mesmo ambiente descrito como barulhento e cheio de máquinas perigosas só que, além de tudo o que já foi demonstrado como prejudicial ou danoso a sua integridade física, adicione também os fragmentos de produtos e matérias-primas básicas utilizadas no processo de produção industrial no qual você participa...<br />A cal (ou óxido de cal) adicionado a partículas de pelos provenientes do algodão ou das peles de animais como carneiros e ovelhas flutuando pelo ar de recintos apertados, com pouca luminosidade, sem ar puro, com temperaturas elevadas e com todas as pessoas tendo que acelerar ao máximo o processo produtivo... Insalubridade total era a regra para que os baixos custos e a eficácia promovessem o máximo de lucratividade...<br />“Aproximadamente uma semana depois de ter me tornado um funcionário no moinho, eu fui acometido por uma forte e pesada doença da qual poucos escapavam quando se tornavam operários nas fábricas. A causa dessa enfermidade, que também é conhecida como ‘febre dos moinhos’, é a atmosfera contaminada produzida por tantas pessoas respirando em espaços confinados ao mesmo tempo, com o calor e o exalar de graxas, óleos e gases necessários para iluminar o estabelecimento.” [Frank Forrest, em seu livro “Chapters in the life of a Dundee factory boy”, de 1850].<br />O resultado não poderia ser mesmo outro… Doenças respiratórias eram comuns, acidentes que deformavam ou mesmo matavam os trabalhadores também eram comuns, enfermidades de outras naturezas também abundavam... Como os direitos trabalhistas ainda não eram leis estabelecidas nas nações européias o que acabava invariavelmente acontecendo era a demissão dos funcionários acidentados ou adoentados e o não pagamento de indenizações às famílias daqueles que haviam perecido.<br />Se já não bastassem as condições insalubres, as longas jornadas e os salários baixos, não havia qualquer seguro ou garantia aos operários e a seus familiares quanto a integridade física dos trabalhadores, nem ao menos era possível prever se ao final da extensa carga de trabalho essas pessoas seriam capazes de retornar vivas para suas pobres casas. Algumas empresas ainda tentavam amenizar a perda acidental de alguns de seus funcionários oferecendo a vaga aberta em primeiro lugar para filhos, cônjuges ou parentes muito próximos que residissem junto com a família do falecido ou aleijado...<br />“Os primeiros dias de setembro são muito quentes. Os jornais noticiaram que homens caíram mortos durante as colheitas nos campos e que muitos cavalos também haviam morrido nos dias de trabalho na zona rural ou ao longo das estradas. Isso ainda que a temperatura nesse período não tenha superado a média de 29° na maior parte dos referidos dias. Qual, então, deve ser a situação das pobres crianças que estão condenadas à labuta pesada por quatorze horas diárias, em temperaturas médias de 29°? Pode algum homem, com um coração em seu corpo, e uma língua em sua boca, conter-se de amaldiçoar um sistema que produz tal escravidão e crueldade?” [William Cobbett, em relato de visita a uma fábrica têxtil no ano de 1824].<br />E o que acontecia aos homens que se dispunham a abrir suas bocas e corações para brigar por direitos básicos e essenciais em seus ambientes de trabalho? Eram perseguidos, demitidos e amaldiçoados pelo sistema. Seus nomes passavam a ser malditos e isso acarretava a impossibilidade de conseguir novos empregos em outras fábricas – mesmo que essas empresas estivessem localizadas em áreas ou países distantes.<br />E isso não parava por aí... As conseqüências estendiam-se também para seus familiares. Isso quando a perseguição não se tornava ainda mais violenta, com a perseguição física aos amotinados e rebeldes... Pouco importava se a temperatura interna dos locais de produção fosse elevada, as roupas pesadas a aumentar o calor dos corpos e a pressão interna dos organismos, a respiração dificultada pelos resíduos de carvão, óleos ou matérias-primas, a luminosidade parca que também colaborava para acidentes, a falta de equipamentos de segurança ou ainda as máquinas perigosas... A morte também rondava fora da fábrica aos rebeldes...<br />“No último verão visitei três fábricas têxteis em companhia do doutor Clough, de Preston, e do senhor Barker, de Manchester, e nós não conseguíamos ficar por mais de dez minutos nas fábricas sem tossir e respirar com dificuldade. Como então é possível agüentar para aqueles que estão condenados a ali permanecer por doze ou quinze horas? Se nós levarmos em conta a alta temperatura do ar e a contaminação desse mesmo ar, isso se torna um problema que deixa minha mente muito confusa, como as pessoas que sofrem com esse confinamento suportam isso por tão longos períodos de tempo.” [Dr. Ward, em depoimento sobre as condições de trabalho em fábricas têxteis no ano de 1919].<br />Doze, quatorze ou até quinze horas de trabalho. Nas piores condições imagináveis (e muitas vezes inimagináveis aos nossos olhos de cidadãos do mundo do terceiro milênio). Como essas pessoas conseguiram suportar todo esse sofrimento? Como as autoridades puderam fechar os olhos a toda essa exploração? Será que o mundo realmente mudou muito de lá para cá? Ou será que, apesar das supostas melhorias nas condições gerais de produção e trabalho, você não continua sendo um escravo sujeito a crueldades...<br />Atividades.<br />1. Após uma leitura detalhada do texto faça um breve relato das condições de trabalho nas fábricas no século XVIII e XIV?<br />2. Aponte as diferenças ou semelhanças com a rotina de trabalho dos operários de fábricas da atualidade. (Se for necessário faça uma pesquisa sobre direitos trabalhista).<br />3. Releia o último parágrafo e responda os questionamentos que aparecem nele.Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-66343036919922349952008-06-13T12:32:00.000-07:002008-06-13T12:33:49.372-07:00Campos de ConcentraçãoA Solução FinalOs nazistas criam os campos de extermínio<br />Ao longo dos primeiros anos da guerra, como era de se esperar, Hitler passou a ter um grande problema para resolver, a quantidade de prisioneiros judeus amontoados em campos de concentração nazistas aumentava consideravelmente a cada dia. A invasão da Polônia em 1939 e o posterior avanço sobre a União Soviética em 1942 elevaram o número de judeus presos pelos alemães aos milhões. O que fazer com tão grandioso número de prisioneiros passou a ser um novo dilema a ser resolvido pelas tropas comandadas pelo führer nazista.<br />Mais de 5 milhões de judeus viviam na Polônia e nas áreas soviéticas conquistadas pelos alemães. Por esse motivo, os nazistas articularam a criação de áreas específicas do território polonês onde esses prisioneiros poderiam ficar confinados ou ainda pensaram numa provável deportação para a ilha de Madagascar, no continente africano. Nenhuma dessas sugestões foi aceita em virtude de um plano ainda mais audacioso criado pela SS, a tropa de elite do exército nazista, a Solução Final.<br />De acordo com anotações (de 1942) de Joseph Goebbels, um dos mais influentes líderes nazistas, que tinha grande proximidade com Adolf Hitler: “O führer expressou sua determinação de exterminar os judeus da Europa... Não sobrarão muitos judeus. Aproximadamente sessenta por cento deles será liquidada; somente quarenta por cento deles será aproveitada como trabalho escravo”. A princípio ficou a cargo da SS, utilizando uma prática bastante simples, a execução à bala, a responsabilidade pelo extermínio desse enorme contingente de prisioneiros judeus. Até o início do ano de 1942, a matança promovida pela SS já havia atingido o patamar de incríveis 500 mil vítimas (principalmente judeus poloneses e russos). Essa prática fica mais clara a partir do depoimento dado por um motorista de caminhão que assistiu a um desses morticínios promovidos pela SS:<br />“Um dia eu fui instruído a dirigir meu caminhão para fora da cidade. Eu fui acompanhado por um ucraniano. Deviam ser umas dez horas da manhã. No caminho nós ultrapassamos judeus carregando bagagens que marchavam a pé na mesma direção que estávamos indo. Havia famílias inteiras. Quanto mais nos distanciávamos da cidade, maiores ficavam as filas. Pilhas de roupas jaziam num grande campo aberto. Essas roupas eram o meu destino. O ucraniano me mostrou como chegar lá. Depois que paramos na área próxima as pilhas de roupas o caminhão começou a ser imediatamente carregado com as vestimentas. O carregamento era feito pelos ucranianos. Eu acompanhava o acontecia com os judeus – homens, mulheres e crianças chegavam. Os ucranianos faziam com que passassem por um número diferente de lugares aonde os judeus deixavam suas bagagens e depois os seus casacos, sapatos, camisas, calças e até mesmo suas roupas de baixo. Eles também tinham que deixar seus objetos de valor num local específico. Havia pilhas de cada item de vestuário. Tudo acontecia muito depressa e qualquer um que hesitasse era chutado ou empurrado pelos ucranianos para se manter em movimento. Eu acredito que não se passava nem um minuto entre o tempo em que os judeus tiravam seus casacos até o momento em que ficavam completamente nus. Não eram feitas distinções entre homens, mulheres e crianças. Podia-se pensar que os judeus que chegavam mais tarde teriam a chance de voltar quando viam que os outros estavam se despindo. Ainda fico surpreso em saber que isso não acontecia. Uma vez despidos, os judeus eram levados para um barranco que tinha aproximadamente 150 metros de comprimento, 30 metros de largura e uns 15 metros de profundidade. Duas ou três entradas estreitas levavam a esse barranco ao qual os judeus eram encaminhados. Quando eles chegavam ao fundo do barranco eles eram agredidos por membros da SS e obrigados a se deitar no topo de uma pilha de judeus que já haviam sido mortos à bala. Isso tudo acontecia muito depressa e os corpos se amontoavam em camadas. Os judeus eram mortos com um tiro na altura do pescoço por uma metralhadora no local onde estavam deitados. Havia apenas dois homens encarregados da execução...”<br />Dois fatores foram, porém, fundamentais para que essa estratégia viesse a ser modificada. O primeiro motivo foi o grande contingente de pessoas que deviam ser aniquiladas. A segunda razão foi que os executores da pena capital acabavam sofrendo com crises de esgotamento nervoso, mesmo levando-se em conta que, de acordo com o raciocínio nazista, não estivessem matando seres humanos... Isso fez com que os nazistas criassem um método de eliminação desses prisioneiros que fosse impessoal, onde a dor e o sofrimento dos carrascos não se tornassem um novo fardo a ser carregado para os campos de batalha. Organizaram então os chamados campos de extermínio, onde milhares de prisioneiros poderiam ser mortos ao mesmo tempo nas temíveis câmaras de gás. A capacidade de matar foi ampliada enormemente com o surgimento de instalações dessa natureza em campos como os de Treblinka (onde podiam ser mortos 25 mil pessoas), Majdanek (25 mil pessoas), Belzec (15 mil pessoas) ou Sobibor (20 mil).<br />Os cálculos feitos pelos historiadores estimam que cerca de 18 milhões de pessoas foram enviadas aos campos de extermínio. O número de vítimas da Solução Final por sua vez teria ficado entre 6 e 11 milhões de prisioneiros.Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-14270528789106214402008-06-07T15:32:00.001-07:002008-06-07T15:32:54.167-07:00IdeologiaIdeologia<br /><br />Ideologia é o conjunto de idéias, conceitos e comportamentos que prevalecem sobre uma sociedade. Seu objetivo é encobrir as divisões existentes na sociedade e na política, mostrando uma forma maquiada de indivisão.<br /><br />A ideologia funciona invertendo os efeitos e as causas, resultando em imagens e sintomas, produzindo uma utopia social, usando o silêncio para encobrir a incoerência.<br /><br />Podemos exemplificar a ideologia com a afirmação de que o adultério é crime, que o homossexual é pervertido e que o futebol é coisa do homem. O que a ideologia encobre?<br /><br />Encobre o vínculo entre compromisso e sexo, no primeiro caso, o preconceito pela escolha sexual diferente e o uso do sexo para prazer e não para procriar, segundo caso, e a discriminação ainda existente com o sexo feminino, último caso.<br /><br />Por Gabriela CabralAna Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-12941977521448370562008-06-07T15:30:00.002-07:002008-06-07T15:32:19.380-07:00UtopiaUtopia<br /><br />Utopia é o conceito de algo ideal, perfeito, fantástico, imaculado, idéia que se torna imaginária segundo os padrões da atual sociedade. Pode-se referir aos ideais do presente como também do futuro, é uma palavra oriunda do grego que significa “lugar que não existe”. Esse termo teve origem por volta de 1516, utilizado por Thomas More no título de uma de suas obras escritas em latim. Para alguns historiadores More ficou fascinado pelas narrações de Américo Vespúcio sobre a recém avistada ilha de Fernando de Noronha, em 1503. A partir das narrações extraordinárias que ouvira, More passou a escrever sobre um lugar novo e imaculado onde existiria uma sociedade perfeita.<br /><br />A utopia está ligada à idealização um lugar, uma vida, um futuro, quaisquer pensamentos que se tenha através de uma visão fantasiosa e contrária ao mundo real. O utopismo é uma forma irreal e absurdamente otimista de ver as coisas como gostaríamos que fosse. Um bom exemplo desse pensamento é o fato de uma pessoa idealizar outra, fantasiando alguém que para os dias e contextos atuais se torna inexistente. Isso com base nas características e nas qualidades de cada indivíduo, pois todos os seres humanos são dotados de falhas e defeitos, de forma que não existe alguém perfeito, mas o que seria da sociedade sem os pensamentos utópicos, o que seria do homem sem seus sonhos fantásticos? Talvez o que seja utopia hoje possa a ser a realidade de amanhã. Tudo é possível quando a gente crê e faz acontecer, para nós uma sociedade igualitária que visa e zela pelo bem estar do próximo e do mundo é algo utópico, assim como toda tecnologia que temos hoje era utopia para nossos antepassados.<br />A utopia pode ser dividida em cinco:<br /><br />• Utopia Moderna;<br />• Utopia Política;<br />• Utopia Econômica;<br />• Utopia Religiosa;<br />• Utopia Ecologista.<br /><br />Por Eliene PercíliaAna Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-80435418973240603372008-06-07T15:30:00.001-07:002008-06-07T15:30:43.777-07:00O SputinikO Sputinik<br /><br />Foi o primeiro satélite a ser lançado no espaço, em 1957. Esse acontecimento marcou a história, pois o lançamento do Sputnik chamou a atenção do mundo pela grandeza da tecnologia apresentada. Seu tamanho era similar a de uma bola de basquete, pesando cerca de 83,6 kg. Tinha apenas a função de transmitir um sinal de rádio, que podia ser sintonizado por qualquer rádio amador.<br /><br />Ficou em órbita apenas três meses, porém foi o suficiente para expandir o “horizonte” da humanidade, que a partir de então não teve mais a terra como limite. Muitos consideraram o lançamento do Sputnik uma jogada de marketing dos soviéticos durante a Guerra Fria. Os Estados Unidos da América passou a investir em sua tecnologia espacial, esse foi considerado o primeiro passo para a criação da NASA (Agência Espacial Norte-Americana), na tentativa de conter o avanço tecnológico de seu rival.<br /><br />Depois do Sputnik estava aberta a corrida espacial, pois tanto os soviéticos quanto os Estados Unidos queriam dominar o espaço com sua tecnologia. Os investimentos na área tecnológica espacial foram grandes e, estão previstos novos investimentos de aproximadamente 12 bilhões de dólares para os próximos anos somente nos Estados Unidos.<br /><br />Por Eliene Percília<br />Equipe Brasil EscolaAna Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-77825414188287102712008-06-07T15:29:00.000-07:002008-06-07T15:30:08.169-07:00O acidente com o Césio-137Acidente com o Césio-137<br />Foi um acidente radioativo ocorrido no dia 13 de setembro de 1987, em Goiânia, Goiás. No desastre foram contaminadas centenas de pessoas acidentalmente através de radiações emitidas por uma cápsula que continha césio-137. Foi o maior acidente radioativo do Brasil e o maior do mundo ocorrido fora das usinas nucleares. Tudo teve inicio com a curiosidade de dois catadores de lixo, que vasculhavam as antigas instalações do Instituto Goiano de Radioterapia (também conhecido como Santa Casa de Misericórdia), no centro de Goiânia.<br /><br />No local eles acabaram encontrando um aparelho de radioterapia, eles removeram a máquina com a ajuda de um carrinho de mão e levaram o equipamento até a casa de um deles. Eles estavam interessados no que podiam ganhar vendendo as partes de metal e chumbo do aparelho em ferros-velho da cidade, ignoravam de todas as formas o que era aquela máquina e o que continha realmente em seu interior.<br /><br />No período da desmontagem da máquina, eles foram expostos ao ambiente 19,26 g de cloreto de césio-137 (CsCl), tal substância um pó branco parecido com o sal de cozinha, porém no escuro ele brilha com uma coloração azul. Após cinco dias, a peça foi vendida a um proprietário de um ferro-velho, o qual se encantou com o brilho azul emitido pela substância. Crendo estar diante de algo sobrenatural, o dono do ferro-velho passou 4 dias recebendo amigos e curiosos interessados em conhecer o pó brilhante. Muitos levaram para suas casas pedrinhas da substância, parte do equipamento de radioterapia também foi para outro ferro-velho, de forma que gerou uma enorme contaminação com o material radioativo.<br /><br />Os primeiros sintomas da contaminação (vômitos, náuseas, diarréia e tonturas) surgiram algumas horas após o contato com a substância, o que levou um grande número de pessoas a procura hospitais e farmácias, sendo medicadas apenas como pessoas portadoras de uma doença contagiosa. Mas tarde descobriu-se de que se tratava na verdade de sintomas de uma Síndrome Aguda de Radiação. Somente no dia 29 de setembro de 1987 é que os sintomas foram qualificados como contaminação radioativa, e isso só foi possível devido à esposa do dono do ferro-velho ter levado parte da máquina de radioterapia até a sede da Vigilância Sanitária.<br /><br />Os médicos que receberam o equipamento solicitaram a presença de um físico, pois tinham a suspeita de que se tratava de material radioativo. Então o físico nuclear Valter Mendes, de Goiânia, constatou que havia índices de radiação na Rua 57, do St. Aeroporto, bem como nas suas imediações. Por suspeitar ser gravíssimo o acidente, ele acionou a então Comissão Nacional Nuclear (CNEN).<br /><br />O então chefe do Departamento de Instalações Nucleares José Júlio Rosenthal, dirigiu-se no mesmo dia para Goiânia. Ao se deparar com um quadro preocupante, ele chamou o médico Alexandre Rodrigues de Oliveira, da Nuclebrás (atualmente, Indústrias Nucleares do Brasil) e também o médico Carlos Brandão da CNEN. Chegaram no dia seguinte, quando a secretaria de saúde do estado já fazia a triagem num estádio de futebol dos acidentados.<br /><br />Uma das primeiras medidas foi separar todas as roupas das pessoas expostas ao material radioativo, lavá-las com água e sabão para a descontaminação externa. Após esta medida, as pessoas tomaram um quelante (substancia que elimina os efeitos da radiação, denominado de “azul da Prússia”). Com ele, as partículas de césio saem do organismo através da urina e das fezes.<br /><br />Cerca de um mês após o acidente quatro pessoas vieram a óbito, a menina Leide das Neves, Maria Gabriela e dois funcionários do ferro-velho e cerca de 400 pessoas ficaram contaminadas. O trabalho de descontaminação dos locais atingidos geraram cerca de 13,4 toneladas de lixo (roupas, utensílios, materiais de construção, etc.) contaminado com o césio-137. Esse lixo encontra-se armazenado em cerca de 1.200 caixas, 2.900 tambores e 14 contêineres em um depósito construído na cidade de Abadia de Goiás, onde deve ficar por aproximadamente 180 anos.<br /><br />Após o acidente cerca de 60 pessoas morreram vítimas da contaminação com o material radioativo, entre eles funcionários que realizaram a limpeza do local. O Ministério Público reconhece apenas 628 vítimas contaminadas diretamente, mas a Associação de Vítimas contaminadas do Césio-137 calcula que esse número seja superior a 6 mil pessoas que foram atingidas pela radiação. No ano de 1996, a Justiça julgou e condenou por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) três sócios e funcionários do antigo Instituto Goiano de Radioterapia (Santa Casa de Misericórdia) a três anos e dois meses de prisão, pena que foi substituída por prestação de serviços. Atualmente, as vítimas reclamam da omissão do governo para com a assistência que eles necessitam, tanto médica como de medicamentos. O governo nega a acusação e diz que as vítimas fazem o uso do acidente como pretexto para justificar todos seus problemas de saúde.<br /><br />Por Eliene PercíliaAna Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-35661678505196142842008-06-07T15:26:00.000-07:002008-06-07T15:29:16.120-07:00Os três poderesPoder Executivo<br />O Poder Executivo é um poder do governo que tem como principal responsabilidade executar as leis e a agenda (ou seja, as ações do dia-a-dia) diária do governo ou do Estado.<br />O poder executivo pode ser representado, em nível nacional, por apenas um órgão (Presidência da República, no caso de um regime presidencialista), ou pode ser dividido (parlamento e coroa real, no caso de uma Monarquia Constitucional).<br />Nos países presidencialistas, como o Brasil, o poder executivo é representado pelo presidente, que é ao mesmo tempo chefe de governo e chefe de estado. Nos países parlamentaristas, o poder executivo fica dividido entre o primeiro-ministro, que é o chefe de governo, e o monarca (normalmente, um rei), que assume o cargo de chefe de estado.<br />Em regimes completamente monárquicos, o monarca assume as funções de chefe do governo e do Estado.<br />Mas nem sempre o Executivo se resume somente aos chefes. Em regimes democráticos, o Presidente ou o Primeiro-Ministro conta com um conselho de ministros, assessores e secretários, entre outros.<br />O Executivo tem, normalmente, as seguintes obrigações:<br />Aplicar as leis - para isso, ficam a cargo do Executivo órgãos como os de polícia, as prisões etc.<br />Manter as relações do país com as outras nações<br />Manter as forças armadas<br />Administrar órgãos públicos de serviços à população, como bancos, por exemplo<br /><br />Poder Legislativo<br />O Poder Legislativo é quem cria as leis. Ele é representado pelos legisladores - homens que devem elaborar as leis que regulam o Estado. O Poder Legislativo, na maioria das repúblicas e monarquias, é constituído por um Congresso, pelo Parlamento e pelas Assembléias ou Câmaras.<br />O Poder Legislativo tem como função criar normas de direito de abrangência geral (ou, raramente, de abrangência individual) que são estabelecidas aos cidadãos ou às instituições públicas nas suas relações recíprocas - são as leis, que devem ser cumpridas pela população e pelos governantes.<br />No caso de regimes ditatoriais (as ditaduras), o poder legislativo é exercido pelo próprio ditador ou pela câmara legislativa nomeada por ele.<br />Entre as funções fundamentais do Poder Legislativo estão as de fiscalizar o Executivo, votar leis orçamentárias e, em situações específicas, julgar determinadas pessoas, como o Presidente da República ou os próprios membros do legislativo.<br /><br />Poder Judiciário<br />O Poder Judiciário é o que tem a capacidade de julgar, de acordo com as leis criadas pelo Poder Legislativo, e de acordo com as regras constitucionais em determinado país.<br />Ministros, desembargadores e juízes são os responsáveis por julgar.<br /><br /><br />Você acha que eles julgam bem?<br />Você gostaria de ser político, ou de trabalhar em um dos Três Poderes?Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-28192566545579615862008-06-07T15:25:00.000-07:002008-06-07T15:26:45.056-07:00Che GuevaraA revolução em carne e ossoBreve biografia de Ernesto "Che" Guevara<br /><br />“Nasci na Argentina; isso não é segredo para ninguém. Sou cubano e também sou argentino e, se não se ofendem os ilustríssimos ‘senhores’ da América Latina, me sinto cidadão da América Latina, de qualquer país da América Latina, tanto que no momento que fosse necessário, estaria disposto a sacrificar minha vida pela libertação dos países da América Latina sem pedir nada a ninguém, sem exigir nada, sem explorar nenhuma pessoa”. (Ernesto “Che” Guevara)<br />Ernesto Guevara de La Serna nasceu em 14 de Junho de 1928, na cidade de Rosário, na Argentina. Sofria de asma desde os dois anos de idade o que obrigou sua família a se mudar para Altagracia em 1932 em virtude de recomendação médica.<br />Entrou para a faculdade de medicina da Universidade de Buenos Aires em 1947. No ano de 1952 viajou pela América Latina em companhia do amigo e bioquímico, Alberto Granados. Viajaram pela Argentina, de moto, até o extremo sul do país, por onde atravessaram a fronteira em direção ao Chile. Mesmo com a aposentadoria precoce de seu veículo ainda em terras chilenas, Ernesto e Alberto prosseguiram sua viagem passando pelo Peru, Colômbia e terminando o périplo sul-americano em terras venezuelanas.<br />Concluiu seus estudos universitários apenas depois de sua volta pelo sul do continente americano. Estava completamente modificado pela experiência o que acabou transformando decisivamente sua história de vida. Do contato com a realidade pobre e carregada de injustiças que vira pelos confins da América Andina brotava o ideal revolucionário que carregaria pelos anos seguintes de sua existência.<br />Tentou se estabelecer na Venezuela, mas a situação vivida pela Bolívia e seu contato com exilados latino-americanos no Peru fizeram com que ele mudasse de planos. Deslocou-se então para a Guatemala onde teve seu primeiro contato com os futuros revolucionários cubanos a partir da figura de Ñico Lopes, que participara do assalto ao quartel de Moncada ao lado de Fidel Castro. A queda do governo democrático estabelecido naquele país obrigou Guevara a partir para o México.<br />Enquanto morou no México trabalhou numa ala para alérgicos de um hospital da capital daquele país. Reforçava seus ganhos mensais atuando como fotógrafo. Teve então um contato inicial com Raul Castro, irmão de Fidel, que contou a ele a situação vivida em Cuba.<br />Conheceu Fidel Castro em 1955 e entrou para o grupo que iria partir na histórica expedição que desembocaria na Cuba Revolucionária do final dos anos 1950. Partiu com os combatentes cubanos em novembro de 1956 a bordo do barco Granma. O barco nem ao menos conseguiu aportar em terras cubanas, tendo naufragado por excesso de carga e passageiros a apenas poucas milhas de seu destino previsto.<br />Haviam desembarcado no dia 2 de dezembro e logo foram pegos de surpresa pelas tropas legalistas de Fulgêncio Batista na cidade de Alegria de Pio. Refugiaram-se nas montanhas cubanas onde obtiveram um tímido apoio inicial dos camponeses cubanos. A vitória obtida no ataque ao quartel Uvero marcou, de acordo com o testemunho do próprio ‘Che’ o momento decisivo para que a revolução viesse a se tornar vitoriosa. Era como se o exército revolucionário tivesse atingido a maioridade...<br />Foi nomeado líder da quarta coluna rebelde e ajudou na instalação dos novos acampamentos na região de El Hombrito. No final do mês de dezembro de 1958 partiram para a ofensiva final com o ataque a cidade de Santa Clara. Com a tomada de Santa Clara o acesso e o domínio dos comandados de Fidel e ‘Che’ sobre Havana era questão de horas. O avanço sobre a capital cubana se consolidou na virada do ano e, em 2 de janeiro, Cuba estava nas mãos de um novo governo.<br />A vitória da revolução em Cuba foi celebrada com a naturalização de Ernesto ‘Che’ Guevara como cubano poucos dias depois da tomada de Havana. Nesse mesmo ano foi nomeado presidente do Banco Nacional de Cuba.<br />Há importantes relatos de participantes do processo revolucionário cubano que definem como decisiva a atuação de ‘Che’ na conversão de Fidel para os princípios socialistas e comunistas. Era comum que Guevara citasse pensamentos de Marx, Lênin, Engels ou Mao Tse-Tung.<br />A opção pelo socialismo adotada por Fidel Castro em 1960 fez com que os laços que uniam Cuba e a União Soviética se estreitassem. Por esse motivo, ‘Che’ foi enviado em viagem diplomática pelos países da cortina de ferro. Visitou a Tchecoslováquia, a União Soviética, a Alemanha Oriental, a Hungria, a Coréia do Norte e a China.No ano de 1961 foi nomeado Ministro da Indústria.<br />Participou nos anos seguintes da implantação do socialismo em Cuba de forma decisiva, tendo atuado tanto como representante diplomático em vários eventos e países (especialmente na América Latina, onde buscava apoio e representatividade para o boicotado governo socialista de Fidel) quanto na ação defensiva de sua pátria por adoção contra as tentativas de desestabilização política e golpe contra os ideais revolucionários estabelecidos a partir de 1959.<br />Apesar de todo o seu envolvimento com os rumos da revolução socialista em Cuba, ‘Che’ Guevara alimentava o sonho de ampliar o raio de ação de sua luta revolucionária. Pretendia expandir a luta contra o capitalismo e toda exploração advinda desse sistema contra as populações pobres do mundo subdesenvolvido incentivando pessoalmente o surgimento de focos de rebelião e combate em outras regiões desprovidas da própria América Latina e também da África.<br />Por esse motivo, se despede de seu companheiro de lutas Fidel Castro e de sua vitoriosa experiência revolucionária em Cuba em Outubro de 1965. Parte então para uma frustrada experiência em terras africanas, mais especificamente no Congo, onde desprovido de recursos materiais e contando com o apoio de reduzido e mal preparado grupo de voluntários, acaba fracassando.<br />No ano de 1966, parte em direção a Bolívia para sua última batalha. Ainda não havia completado sequer 40 anos (morreu com 39) e entrava em um novo campo de combate nas selvas daquele país. Já havia se tornado um ícone mundial e encarnava o espírito revolucionário como poucas pessoas que haviam vivido nesse planeta. Homem fragilizado por uma asma que o perseguia desde a mais tenra idade, jamais se mostrou desencorajado perante as dificuldades que a doença lhe trazia.<br />Desafiou as montanhas cubanas, as tropas contra-revolucionárias, o intenso calor africano, a falta de recursos ou ainda a densa floresta boliviana para morrer assassinado no ano de 1967. Desaparecia o homem e nascia o mito, o mártir...Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-41308548761758187472008-06-07T15:24:00.000-07:002008-06-07T15:25:39.355-07:00Ditadura MilitarPesadelo 1964<br />A tortura nos porões da ditadura militar brasileira<br /><br />Cirilo? Juvenal? Antônio? Foram tantos os nomes que usei que mal consigo me lembrar daquele que foi registrado em cartório. Por vezes me esqueço que me chamo Pedro. Pedro Luís de Almeida e Silva.<br />Escutava ao fundo a voz que gritava nos meus ouvidos pelo tal Juvenal e que alternava esse grito por um ainda mais estridente chamando pelo Cirilo ou pelo Antônio.<br />Não ouvia direito apesar do tom de voz muito alto e dos plenos pulmões utilizados por esses homens para me atingir, me ferir, me intimidar...<br />Havia levado tanto "telefone" nos ouvidos que acredito que meus tímpanos foram estourados, o que me levava a ter dificuldades para escutá-los mesmo que estivessem a meu lado, atingindo meu pobre corpo, cheio de hematomas, a jorrar sangue pelo nariz ou pelos cortes e pontos do corpo queimados com bitucas de cigarro.<br />Já haviam passado alguns dias desde que chegara lá. Estava nas dependências de uma das várias áreas utilizadas pelo DOI-CODI para torturar e reprimir violentamente (e com crueldade) os inimigos do governo militar que domina o Brasil desde 1964.<br />Já tinha ouvido falar das coisas horríveis que eram feitas com os "terroristas" (estudantes, professores, jornalistas, artistas, políticos, operários,...) que ousavam desafiar o sistema com suas organizações clandestinas. Sabia que eram depoimentos verdadeiros, pois alguns dos "companheiros" que haviam ido para os cárceres da repressão haviam sobrevivido para contar suas histórias, outros tantos não tiveram a mesma sorte...<br />Eu mesmo era apenas um estudante secundarista quando ocorreu a tal "Revolução de 64" que, logo de cara, percebemos ser um golpe de estado dado pelos militares apoiados pelas forças mais conservadoras e retrógradas de nossa sociedade (descobrimos depois que os Estados Unidos também haviam favorecido o estabelecimento dos governos militares).<br />Ativo como estava no movimento estudantil e, tendo em seguida ingressado na universidade, vim me juntar aos estudantes que compunham a UNE, participei de movimentos e passeatas, de congressos (como o de Ibiúna!) e estive presente nos confrontos da rua Maria Antônia, entre estudantes da USP e do Mackenzie.<br />Meus crimes nessa guerra eram, até então, lutar pela liberdade de expressão, admirar Che Guevara e a Revolução Cubana, marchar contra a censura, pedir a libertação de presos políticos e contestar a aprovação de leis brutais e totalmente repressivas como as que foram estabelecidas a partir dos atos institucionais (em particular as do AI-5).<br />Inconformado com o silenciamento dos opositores e o progressivo desaparecimento de diversos ativistas desses movimentos clandestinos, acabei me juntando a uma das várias facções libertárias que existiam no país naquela época.<br />Percebemos que com a imprensa sendo obrigada a estampar receitas de bolo em seus editoriais ou imprimindo páginas em branco, dificilmente o povo ficaria sabendo o que estava acontecendo nos porões, nas salas de tortura.<br />Para atingirmos nossos objetivos, elaboramos planos de seqüestros de autoridades nacionais e estrangeiras para que pudéssemos trocá-las por companheiros que estivessem presos nos quartéis ou nas cadeias controladas pelo regime repressivo.<br />Em algumas oportunidades fomos bem sucedidos, em outras nem tanto. Invariavelmente éramos delatados por agentes da repressão que se infiltravam em nossos movimentos. Vimos alguns de nossos maiores expoentes, como Marighella e Lamarca serem mortos impiedosamente. Éramos caçados e tínhamos que mudar constantemente; migrávamos de um "aparelho" para outro, de um estado para outro, de uma cidade para outra como quem troca de roupa.<br />Tínhamos que assaltar bancos para poder sustentar nossas ações e para divulgar nossas causas. Organizávamos nossas ações em detalhes para que causássemos grande repercussão no país através das notícias veiculadas pelo rádio, pela TV e pelos grandes jornais. A ditadura jamais permitia que os acontecimentos fossem divulgados na íntegra, principalmente nossas pichações e incitações a revolução, a luta contra a ditadura.<br />Acabei sendo capturado.<br />Sofri como pude, da forma mais corajosa e brava a todo e qualquer castigo que me fosse imputado para não delatar meus companheiros, seus esconderijos e nossas ações futuras. Não sabia até quando poderia resistir.<br />Desde que fui capturado passei por várias humilhações. Fui espancado até que tivesse ossos quebrados, hematomas por todo o corpo e sangue a escorrer de meus ouvidos e de meu nariz. Deixaram-me nu e me deram um banho com mangueira de alta pressão (daquelas usadas pelos bombeiros). Fraco como estava cambaleei e acabei caindo no chão várias vezes.<br />Arrancaram as unhas de meus pés e de minhas mãos. Me colocaram em um "pau de arara" e amarraram meu corpo (nos meus dedos sem unhas, no meu pênis, nos ouvidos e na língua) a fios que estavam ligados a uma máquina que produzia eletrochoques. Faziam tudo isso e mantinham meu corpo molhado para que a corrente pudesse correr e "queimar" meu corpo com maior intensidade.<br />Fui queimado com cigarro e, enquanto estava no "pau de arara" era submetido ao que os torturadores chamavam de afogamento. Isso consistia em colocar uma mangueira em minha boca sem que eu pudesse retirá-la, provocando sufocamento e me levando várias vezes a desmaiar.<br />Depois desses acontecimentos, fui levado a "geladeira". Uma câmara frigorífica onde fui mantido sem roupas e com o corpo molhado, cheio de queimaduras, escoriações e ferimentos das mais variadas espécies e envergaduras. Fiquei lá por algumas horas (perdi a noção de tempo, não sei se fiquei lá por 15 minutos ou por 3 horas, tudo parecia uma eternidade).<br />Quando voltei a cela, meio alquebrado, fui colocado em companhia de uma jovem, de aproximadamente 24 anos. Que também havia sido violentamente torturada. Ela me contou que havia sido violentada por três torturadores, que seus seios haviam sido beliscados até sangrarem e que ficara durante horas com os pés apoiados em cima de latas de leite condensado (abertas e vazias) que lhe causaram grandes dores. Era obrigada a fazer isso e não podia perder o equilíbrio senão seria castigada com choques por seus algozes.<br />Rosana, segundo me dissera ser seu nome, era operária e fora capturada junto com seu marido, de nome Samuel. Nunca pude saber se esses eram realmente seus nomes. Não tive a oportunidade de revê-la. Não sei se escapou viva desse martírio. Ela foi levada de minha cela poucas horas depois de termos conversado.<br />Em determinados momentos de meu infortúnio fui submetido à "cadeira do dragão", em outros a injeções de pentotal. Fiquei durante dois dias com uma enorme cascavel em minha cela, fui arrastado por uma corda amarrada a meus órgãos genitais e, para completar, vítima da palmatória (também no pênis).<br />Escapei por interferência de um pedido do Cardeal de São Paulo e de autoridades políticas que tinham amizade com meus pais. Estou indo para o Chile. Quem sabe nas terras de Allende eu consiga um pouco de paz! Afirmo, porém, que não perdi meus ideais. Apesar dos olhos roxos, das costelas quebradas e dos pesadelos que tenho todas as noites, desde aquele tenebroso período de minha vida.<br />Pedro Luís de Almeida e SilvaViña Del Mar, Abril de 1970<br />(A história apresentada acima é fictícia, mas poderia ser real; ela se baseia em depoimentos e pesquisas do projeto "Brasil: Nunca Mais", que gerou um livro-documento sobre o período de ditadura militar no Brasil, dando ênfase ao funcionamento dos órgãos de repressão e aos métodos de tortura institucionalizados durante o período mais duro e brutal desse triste momento de nossa história, vivido entre 1967 e 1976).<br />Foram apresentados alguns termos típicos do jargão dos porões da ditadura, onde se realizavam regularmente sessões de tortura, por isso, apresento abaixo uma breve explicação sobre cada um deles:<br />1- Telefone - tapas dados ao mesmo tempo pelos torturadores nos dois ouvidos. Usava-se de grande força, por isso, eram freqüentes os sangramentos, o estouro dos tímpanos e a surdez em quem era vitimado por essa prática.<br />2- DOI-CODI - sigla que deriva de Destacamento de Operações e Informações - Centro de Operações de Defesa Interna. Um dos principais órgãos de tortura durante a ditadura militar brasileira.<br />3- UNE - União Nacional de Estudantes. Entidade estudantil representativa dos universitários brasileiros, extremamente ativa contra a ditadura.<br />4- AI - Atos Institucionais. Alterações promovidas pelo governo na constituição que acabavam por lhe dar autoridade para fechar o congresso, caçar e exilar opositores, autorizar escutas clandestinas, promover a tortura, censurar a imprensa e a produção artística e cultural,... (O mais representativo entre todos os Atos Institucionais foi o AI-5).<br />5- Aparelho - apartamentos, chácaras ou casas alugadas pelos grupos que combatiam o regime para que pudessem se esconder das buscas e varreduras empreendidas pelos militares e pelas autoridades policiais favoráveis ao regime.<br />6- Pau de Arara - local onde os presos eram colocados, de cabeça para baixo, para que ficassem imobilizados (pois eram amarrados ou acorrentados) e sofressem seus espancamentos, choques e afogamentos.<br />7- Cadeira do Dragão - cadeira com assento metálico, ligada a dispositivo que dava descargas elétricas. Os prisioneiros eram amarrados a ela com o corpo desnudo e molhado. Suas pernas eram colocadas entre dois pedaços de madeira que ficavam embaixo da cadeira e, na medida em que recebiam a descarga elétrica, convulsionados, batiam com grande força seus tornozelos e calcanhares na madeira até que sangrassem.<br />8- Pentotal - chamado de "soro da verdade" era uma droga que causava sonolência e torpor dada aos prisioneiros para que viessem a falar mais facilmente sobre seus segredos para a ditadura.<br />9- Palmatória - era como uma raquete de madeira, bem pesada. Com ela os presos políticos eram agredidos principalmente em seus órgãos genitais.Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-34316821937753755332008-06-07T15:23:00.000-07:002008-06-07T15:24:41.767-07:00Efeitos do Tratado de VersalhesEfeitos Colaterais da Guerra - A Inflação na Alemanha no Início dos anos 1920<br /><br />Ao final da 1ª Guerra Mundial, combalida pela destruição material e humana que havia ocorrido no país, endividada até o pescoço em virtude das indenizações devidas aos países vencedores (que acarretaram pagamentos em dinheiro e a concessão de territórios, de acordo com os direcionamentos do Tratado de Versalhes) e com a auto-estima em baixa, à Alemanha da República de Weimar ainda teve que enfrentar uma feroz crise econômica interna, onde sobressaíam os índices de desemprego e inflação altíssimos.<br />Para se ter uma noção mais clara dos estragos causados pela inflação na economia alemã, vale lembrar que em 1921 eram necessários 64 marcos alemães para comprar um dólar. Passados apenas dois anos, em 1923, para se obter um dólar seriam necessários 4 quatrilhões e 200 trilhões de marcos!<br />Os efeitos na vida cotidiana foram desastrosos. A quantidade de desempregados aumentava a cada dia. As pessoas que tinham emprego ganhavam cada vez menos, pois o dinheiro perdia o valor a cada minuto (literalmente). Há depoimentos notáveis que nos colocam em sintonia com aquilo que viviam os alemães, como o de Agnes Smedley que em carta a Florence Lennon, em 21 de Dezembro de 1921 disse:<br />"Em um hotel, a camareira que estava preparando a lareira desmaiou em nosso quarto. A causa era a exaustão. Nós conversamos com ela depois e descobrimos que ela trabalhava 17 horas por dia e ganhava 95 marcos por mês - aproximadamente 50 centavos de dólar. Ela mora no hotel, dorme em um quarto com todas as outras camareiras - um lugar sujo e pequeno. Elas também recebem alimentação, as roupas elas mesmas compram, tudo com apenas 95 marcos por mês! Isso significa que todas elas se tornaram prostitutas e andam pelas ruas quando tem tempo. Ou então conseguem 'clientes' no hotel."<br />Os salários eram tão reduzidos que as pessoas não tinham condições reais de comprar mercadorias. Mesmo produtos essenciais ou básicos na rotina diária das pessoas eram suprimidos nas compras ou substituídos por outros, mais acessíveis. Um exemplo disso pode ser visto na declaração da Sra. Frieda Wunderlich, em entrevista concedida em 1960:-<br />"Logo que recebi meu salário eu corri para comprar os produtos básicos. Meu salário diário, como editora do periódico Soziale Práxis, era suficiente apenas para comprar um pão e um pequeno pedaço de queijo ou ainda um pouco de aveia. Um de meus conhecidos, um pastor (clérigo), veio para Berlim de um subúrbio com seu pagamento mensal para comprar um par de sapatos para seu bebê, ele só pode comprar uma xícara de café."<br />O endurecimento das condições era tão notável que abria-se espaço para o surgimento de epidemias. Além disso, a dieta das pessoas ficava cada vez mais restrita, prevalecendo nas refeições vegetais como nabos, repolhos e batatas. A desgraça do povo alemão virou motivo de especulação, com a qual algumas pessoas tentavam ganhar um pouco mais de dinheiro. Isso pode ser percebido em outro trecho da carta de Agnes Smedley:-<br />"A Alemanha se encontra em terríveis condições esse ano. Isso é particularmente verdadeiro para as massas de trabalhadores, que estão tão desnutridos que a tuberculose está tendo uma rica colheita, particularmente de jovens adolescentes. Apostar no marco alemão tem sido um dos grandes esportes dos capitalistas a meses, e como conseqüência os alimentos aumentaram de 25 a 100 por cento. Eu vivi em casas de trabalhadores; eles se alimentam de batatas cozidas, pão preto com banha ao invés de manteiga e cerveja estragada."<br />Algumas situações causadas pela inflação galopante que tomou contra da Alemanha nesse início dos anos 1920 acabaram se tornando bisonhas e cômicas, como podemos ver em relação à história publicada no jornal Daily Express, em 24 de fevereiro de 1923:-<br />"Um casal de Berlim que estava prestes a celebrar suas bodas de ouro recebeu uma carta oficial avisando que o prefeito, de acordo com os costumes prussianos*, os chamava para presenteá-los com uma doação em dinheiro. Na manhã seguinte, o prefeito, acompanhado de vários vereadores, chegaram na casa do casal de idosos e solenemente entregou-lhes, em nome do estado da Prússia, (o prêmio de) 1 quatrilhão de marcos ou ... menos de 5 centavos de dólar."<br />A turbulenta situação interna da Alemanha forçou os Estados Unidos e a Inglaterra a interferirem revendo os prazos e termos de pagamentos das dívidas de guerra, auxiliando na reorganização do Banco da Alemanha para estabilizar a moeda e concedendo empréstimos pra recuperar a produção. As medidas resultaram em melhorias e estabilidade, a taxa de desemprego voltou a índices considerados normais em 1928 (aproximadamente 8% da população economicamente ativa estava desempregada).<br />Infelizmente as medidas foram tardias e abriram espaços para os radicais nazistas comandados por Adolf Hitler...<br />As péssimas condições de vida da Alemanha no início dos anos 1920 e as humilhantes condições do Tratado de Versalhes levaram os alemães a considerar a República de Weimar e seus representantes no governo como responsáveis pela calamidade verificada em virtude das altas taxas de desemprego e inflação.Charges, como a apresentada ao lado, mostram a República de Weimar como um governo fraco, ausente, desprovido de autoridade.Essa desconfiança abriu espaço para o crescimento das alas radicais a esquerda, como os partidos socialistas e a direita, com o crescimento do Nazismo.Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-18096178336749254192008-06-07T15:21:00.000-07:002008-06-07T15:22:59.753-07:00A Lei ÁureaLei Áurea (1888)<br />Princesa Isabel<br /><br /><br />Declara extinta a escravidão no Brasil.<br /><br />LEI Nº 3.353, DE 13 DE MAIO DE 1888.<br /><br />A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:<br /><br />Art. 1°: É declarada extincta desde a data desta lei a escravidão no Brazil.<br /><br />Art. 2°: Revogam-se as disposições em contrário.<br /><br />Manda, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram, e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nella se contém.<br /><br />O secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comercio e Obras Publicas e interino dos Negócios Estrangeiros, Bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de sua Majestade o Imperador, o faça imprimir, publicar e correr.<br /><br />Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67º da Independência e do Império.<br /><br />Princeza Imperial Regente.<br /><br />Rodrigo Augusto da Silva<br /><br />Carta de lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar o Decreto da Assembléia Geral, que houve por bem sanccionar, declarando extincta a escravidão no Brazil, como nella se declara.<br /><br />Para Vossa Alteza Imperial ver.<br /><br />Chancellaria-mór do Império.- Antonio Ferreira Vianna.<br /><br />Transitou em 13 de Maio de 1888.- José Júlio de AlbuquerqueAna Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-30774427049120392222008-06-07T14:47:00.001-07:002008-06-07T14:47:45.329-07:00Crise de 1929Quando o Mundo decretou falência...O Capitalismo em Convulsão em 1929<br /><br />As fábricas produziam sem parar desde o final da 1ª Guerra Mundial. As encomendas eram cada vez maiores e as perspectivas de crescimento faziam com que os empresários norte-americanos investissem mais na ampliação de seus negócios. Os anos 1920 consolidaram o rádio e o cinema. Os sonhos alimentados pela música e pelos filmes sustentavam a ilusão do progresso sem limites. Ao som do fox-trot a burguesia industrial e comercial ianque balançava seus corpos em longas noitadas durante as quais seu principal combustível eram as bebidas alcoólicas.<br />Automóveis passaram a ser cada vez mais freqüentes nas ruas das principais cidades dos Estados Unidos. Roupas caras, sofisticadas, elaboradas com tecidos finos, provenientes dos melhores produtores do mundo, produzidas pelos mais conceituados alfaiates, estimulavam ainda mais o consumismo entre os americanos.<br />O pagamento de dívidas de guerra e os recursos provenientes da quitação de empréstimos concedidos para a reconstrução dos países europeus arruinados pela Grande Guerra de 1914 elevaram os Estados Unidos a posição de maior potência mundial. O comércio entre o Velho Mundo europeu e a terra da promissão fundada por George Washington e Thomas Jefferson era francamente favorável aos americanos no início da década de 1920.<br />Com seus campos arruinados, sua produção industrial totalmente desarticulada, seus portos de embarque destruídos e com seus meios de transporte e comunicação funcionando precariamente, a Europa ficou a mercê dos produtos que ostentavam o selo “Made in USA” (fabricado nos Estados Unidos).<br />Remédios, materiais de construção, calçados, roupas, máquinas, madeira, combustíveis, alimentos industrializados, gêneros agrícolas e tudo aquilo que era essencial a sobrevivência dos europeus tinha que ser encomendado de empresas americanas.<br />A capacidade produtiva dos Estados Unidos, apesar de grandiosa para o período (o país já era considerado um dos mais ricos e importantes no contexto mundial antes da guerra), era insuficiente para responder a enorme demanda que surgiu em virtude da destruição dos centros produtivos que existiam na Europa. Tentava-se aumentar a produção em ritmo acelerado para suprir essa carência do mercado mundial, entretanto, isso acarretava a necessidade de investimentos grandiosos em novas instalações, mais funcionários, tecnologia atualizada e muita agilidade nos sistemas de comunicação e transporte.<br />Os empresários, sequiosos por novos lucros, investiam tudo o que recebiam na ampliação de seus empreendimentos. Fábricas surgiam da noite para o dia, a contratação de novos funcionários era uma constante, a ampliação dos sistemas geradores de energia uma grande necessidade, a melhoria dos canais de escoamento da produção uma premência cada vez maior...<br />Por mais que estivessem capitalizando com as vendas, o volume de recursos oriundos dos pagamentos de dívidas ou da aquisição de produtos para a reconstrução européia era menor que a necessidade de dinheiro por parte dos empresários para financiar a ampliação de seus negócios (em todos os setores, da agro-indústria exportadora as linhas de produção industrial, passando pelos serviços e pelo comércio).<br />Para sustentar esse negócio tão promissor a saída encontrada pelo empresariado ianque foi a especulação na Bolsa de Valores, com a venda de ações com preços superiores ao seu valor real. Essa prática consistia numa negociação com valores projetados, com base em lucros que poderiam ser auferidos em virtude do crescimento acelerado pelo qual passava os Estados Unidos nessa época.<br />Isso significa que as ações das empresas eram negociadas por valores irreais, que possivelmente seriam atingidos num curto ou médio prazo conforme a avaliação das pessoas que as estavam vendendo. O tilintar das caixas registradoras, constantemente acontecendo em virtude das carências do mercado europeu, cegava os investidores quanto a possibilidade da recuperação gradual dos europeus ocasionar sensíveis diminuições nas importações do Velho Mundo.<br />Na medida em que o tempo passava e a normalidade voltava a Europa, com a recondução dos operários as fábricas e dos camponeses ao trabalho nas lavouras, países como a Inglaterra, a França, a Itália ou a Alemanha, passaram a diminuir as compras que faziam de fornecedores americanos.<br />Pressionados pela necessidade de justificar os investimentos feitos pelos compradores de ações ou os empréstimos obtidos junto a bancos e instituições financeiras, os setores produtivos da economia norte-americana continuaram a produzir de forma extremamente acelerada, como se ainda tivessem um enorme volume de encomendas vindas da Europa.<br />Como essas compras já não estavam sendo efetuadas nos mesmos níveis dos primeiros anos da década de 1920, os estoques de empresas americanas se tornavam cada vez maiores. E não existiam alternativas para o escoamento e a conseqüente venda dessa produção excedente. A América Latina (conhecida então como o “quintal dos Estados Unidos”) tinha reduzido poder de compra e seus mercados não comportavam aumentos consideráveis nas importações.<br />O mercado interno americano, por sua vez, não havia sido estimulado a ampliar seu poder de compra tendo em vista que as riquezas acumuladas no pós-guerra haviam se concentrado nas camadas mais ricas da sociedade. A má distribuição da renda acumulada com os negócios surgidos em virtude da reconstrução européia e do pagamento de dívidas de guerra minava a possibilidade dessa produção ser revendida ao consumidor norte-americano...<br />Além disso tudo, o governo do país havia adotado uma estratégia econômica excessivamente liberal, que delegava ao mercado a capacidade de se auto-gerir, sem qualquer intromissão por parte dos governantes, nos conformes das teses defendidas por Adam Smith e David Ricardo, criadores dessa escola econômica<br />Como conseqüência desse liberalismo acentuado, da especulação na bolsa de valores, da divisão desigual dos rendimentos acumulados com o comércio do pós-guerra e, principalmente da recuperação da Europa, entre os anos de 1927 e 1929, a economia americana começou a ruir.<br />A ocultação dos dados referentes ao comércio exterior e sua retração, com a continuidade da produção em níveis elevados mesmo não tendo mercados que viessem a comprar tais mercadorias, levou os Estados Unidos a queda gradual dos valores das ações no mercado local e internacional até atingir o fundo do poço em outubro de 1929, quando a falência de milhares de empresas foi decretada.<br />Dezenas de milhares de indústrias quebraram. Aproximadamente 9 mil bancos e instituições financeiras fecharam suas portas. Agricultores não tinham para quem vender suas safras. Milhões de pessoas ficaram desempregadas da noite para o dia. Investidores desesperados chegaram a se suicidar...<br />No restante do mundo a falência da locomotiva norte-americana que puxava os demais vagões também provocou estragos consideráveis. O café do Brasil foi queimado ou jogado ao mar, a produção de cobre chileno não tinha mais compradores assim como a carne da Argentina. A incipiente recuperação econômica européia sofria mais um revés e abria-se espaço para a ascensão do nazismo de Hitler no continente...Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-18211746402685475022008-06-07T14:42:00.000-07:002008-06-07T14:44:21.227-07:00Muro de Berlim - O muro que dividiu o mundoMuro de Berlim -O Muro que Dividiu o Mundo<br /><br />Reunidos em Julho de 1945, Josef Stálin da União Soviética, Harry Truman dos Estados Unidos e Winston Churchill da Inglaterra, estavam prestes a dar início a uma nova guerra. E novamente tudo começava em solo alemão, para ser mais preciso, na cidade de Potsdam, onde não muito tempo atrás lideranças alemãs se reuniam para definir os rumos da guerra que travavam contra os aliados.<br />Não seria uma guerra como a anterior, onde a primazia mundial cabia a alemães e ingleses. Seria diferente até mesmo em termos de sua orientação básica: se nas guerras anteriores o objetivo dos países envolvidos era a conquista do "Espaço Vital" (áreas para novos investimentos, mercados consumidores amplos para seus produtos, matéria-prima abundante e barata e mão de obra de baixo custo); nessa nova guerra as motivações seriam, primordialmente, de base política e ideológica.<br />Era o confronto entre o Capitalismo e o Socialismo. Materializados nos Estados Unidos e na União Soviética, respectivamente.<br />O passo inicial?<br />Além do surgimento da "Cortina de Ferro" (termo cunhado pelo primeiro ministro inglês Winston Churchill, ao se referir ao surgimento de uma zona de influência soviética na Europa Central e Oriental, isolando esses países do contato com o Ocidente e, conseqüentemente, da esfera capitalista liderada pelos EUA), a divisão da Alemanha em zonas controladas pelos vencedores da guerra (originalmente a Alemanha foi dividida entre ingleses, franceses, americanos e russos; as áreas controladas pela França e pela Inglaterra foram, entretanto repassadas para o controle norte americano) contribuíram muito para a noção de um mundo dividido, partilhado entre americanos e russos, mesmo que a despeito do desejo da maioria dos países e suas populações.<br />A divisão da Alemanha, ensejada ao final da guerra levou o país a uma situação totalmente inusitada:- famílias haviam sido separadas na disputa entre as ideologias. Alguns membros dessas famílias viviam na Alemanha Ocidental, dentro do modelo capitalista. Outros se mantinham na Alemanha Oriental, seguindo as premissas do socialismo.<br />As perspectivas fora da Alemanha não eram muitas boas no que tange a disputa entre URSS e EUA. Na intensa competição que se estabeleceu entre os dois países, surgiram alianças militares (o Pacto de Varsóvia liderado pelos russos e a OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, capitaneado pelos Estados Unidos), tratados da ajuda econômica financiados pelas superpotências (o Plano Marshall dos norte-americanos e o Comecon, Mercado Comum dos países do leste, dirigido pelos soviéticos), a disputa técnica e científica entre os dois países (cujo maior destaque foi a Corrida Espacial) e mesmo, a competição travada no campo esportivo (quando cada medalha conquistada em Olimpíadas ou Campeonatos Mundiais podia valer prêmios, condecorações ou contratos milionários).<br />Para complicar ainda mais o cenário internacional, em 1949 e 1959 haviam acontecido revoluções socialistas na China e em Cuba. Iniciava-se no Sudeste Asiático, a Guerra da Coréia, entre aliados dos soviéticos e dos norte-americanos (que receberam grande auxílio militar e financeiro das superpotências).<br />Quando se iniciou a construção do Muro de Berlim, em 1959, já se sabia que seria um símbolo poderoso da divisão do mundo nas esferas de influência capitalista e socialista. A construção era vista como uma necessidade do lado oriental, como uma barreira real e intransponível a ser erigida para evitar as deserções e debandadas em direção ao lado ocidental. Mais que um símbolo, o muro deveria representar a solidez e a firmeza do mundo socialista (mesmo que demonstrasse a incapacidade do sistema no tocante ao abastecimento e garantia de uma boa qualidade de vida a seus cidadãos ou ainda, que expusesse a fragilidade política da Alemanha Oriental, abalada como os demais países do Leste pela falta de transparência e de democracia).<br />E como era sólido.<br />O complexo constituía-se do muro, com seus 162 km de extensão (altura média de 4 metros e espessura aproximada de 1,2 metros), armadilhas para tanques, pista operacional, obstáculos para tanques, cerca de arame (com 148 km de extensão) e uma cerca de malha de aço com 2 metros de altura. A construção incluía uma parte do muro enterrada, com quase 2 metros para evitar fugas através de buracos cavados por baixo da muralha externa.<br />Tão sólido que se manteve intacto durante um período de quase 30 anos. Foi inaugurado em 1961 e derrubado em 1989. Sua queda foi tão significativa que, na esteira de sua destruição, caíram também a URSS e a divisão das Alemanhas, que logo depois se unificariam. Chegava ao fim a Guerra Fria...Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-12186580033947736902008-06-07T14:41:00.001-07:002008-06-07T14:42:11.168-07:00Os bonecos de barroOs bonecos de barro<br />POR CLARICE LISPECTOR<br /><br />O que ela amava acima de tudo era fazer bonecos de barro — o que ninguém lhe ensinara. — Trabalhava numa pequena calçada de cimento em sombra, junto à última janela do porão. Quando queria com muita força ia pela estrada até ao rio. Numa de suas margens, escalável embora escorregadia, achava-se o melhor barro que alguém poderia desejar: branco, maleável, pastoso: frio. Só em pegá-lo, em sentir sua frescura delicada, alegrezinha e cega, aqueles pedaços timidamente vivos, o coração da pessoa se enternecia úmido quase ridículo. Virgínia cavava com os dedos aquela terra pálida e lavada — na lata presa à cintura iam se reunindo os trechos amorfos. O rio em pequenos gestos molhava-lhe os pés descalços e ela mexia os dedos úmidos com excitação e clareza. As mãos livres, ela então cuidadosamente galgava a margem até a extensão plana . No pequeno pátio de cimento depunha a sua riqueza. Misturava o barro à água, as pálpebras frementes de atenção — concentrada, o corpo à escuta, ela podia obter uma porção exata de barro e de água numa sabedoria que nascia naquele mesmo instante, fresca e progressivamente criada. Conseguia uma matéria clara. e tenra de onde se poderia modelar um mundo.<br />Como, como explicar o milagre... Ela se amedrontava pensativa. Nada dizia, não se movia, mas interiormente sem nenhuma palavra repetia: Eu não sou nada, não tenho orgulho, tudo me pode acontecer; se quiser, me impedirá de fazer a massa de barro; se quiser, pode me pisar, me estragar tudo; eu sei que não sou nada. Era menos que uma visão, era uma sensação no corpo, um pensamento assustado sobre o que lhe permita conseguir tanto barro e água e diante de quem ela devia humilhar-se com seriedade . Ela lhe agradecia com uma alegria difícil, frágil e tensa; sentia em alguma coisa como o que não se vê de olhos fechados. Mas o que não se vê de olhos fechados tem uma existência e uma força, como o escuro, como a ausência — compreendia-se ela, assentindo feroz e muda com a cabeça. Mas nada sabia de si, passaria inocente e distraída pela sua realidade sem reconhecê-la; como uma criança, como uma pessoa.<br /><br />Depois de obtida a matéria, numa queda de cansaço ela poderia perder a vontade de fazer bonecos. Então ia vivendo para a frente como uma menina.<br /><br />Um dia, porém, sentia seu corpo aberto e fino, e no fundo uma serenidade que não se podia conter, ora se desconhecendo, ora respirando trêmula de alegria, as coisas incompletas. Ela mesma insone como luz — esgazeada, fugaz, vazia, mas no íntimo um ardor que era vontade de guiar-se a uma só coisa, um interesse que fazia o coração acelerar-se sem ritmo... de súbito, como era vago viver. Tudo isso também poderia passar, a noite caindo repentinamente, a escuridão fresca sobre o dia morno.<br /><br />Mas às vezes ela se lembrava do barro molhado, corria alegre e assustada para o pátio: mergulhava os dedos naquela mistura fria, muda e constante como uma espera; amassava, amassava, aos poucas ia extraindo formas. Fazia crianças, cavalos, uma mãe com um filho, uma mãe sozinha, uma menina fazendo coisas de barro, um menino descansando, uma menina contente, uma menina vendo se ia chover, uma flor, um cometa de cauda salpicada de areia lavada e faiscante, uma flor murcha com sol por cima, o cemitério do Brejo Alto, uma moça olhando... Muito mais, muito mais. Pequenas formas que nada significavam, mas que eram na realidade misteriosas e calmas. Às vezes alta como uma árvore alta, mas não eram árvores, m:to eram nada...Ás vezes um pequeno objeto de forma quase estrelada, mas sério e cansado como uma pessoa. Um trabalho que jamais acabaria, isso era o que de mais bonito e atento ela já soubera. Pois se ela podia fazer o que existia e o que não existia!...<br /><br />Depois de prontos, os bonecos eram colocados ao sol. Ninguém lhe ensinara, mas ela os depositava nas manchas de sol no chão, manchas sem vento nem ardor. O barro secava mansamente, conservava o tom claro, não enrugava, não rachava. mesmo quando seco parecia delicado, evanescente e úmido. E ela própria podia confundi-lo com o barro pastoso. As figurinhas assim, pareciam rápidas, quase como se fossem se desmanchar — e isso era como se elas fossem se movimentar. Olhava para o boneco imóvel e mudo. Por amor ou apenas prosseguindo o trabalho ela fechava os olhos e se concentrava numa força viva e luminosa, da qualidade do perigo e da esperança, numa força de sede que lhe percorria o corpo celeremente com um impulso que se destinava à figura. Quando, enfim, se abandonava, seu fresco e cansado bem-estar vinha de que ela podia enviar, embora não soubesse o que, talvez. Sim ela às vezes possuía um gosto dentro do corpo, um gosto alto e angustiante que tremia entre a força e o cansaço — era um pensamento como sons ouvidos, uma flor no coração: Antes que ele se dissolvesse, maciamente rápido, no seu ar interior, para sempre fugitivo, ela tocava com os dedos num objeto, entregando-o. E, quando queria dizer algo que vinha fino, obscuro e liso — e isso poderia ser perigoso — ela encostava um dedo apenas, um dedo pálido, polido e transparente, um dedo trêmulo de direção. No mais agudo e doído do seu sentimento ela pensava: Sou feliz. Na verdade, ela o era nesse instante, e se em vez de pensar: Sou feliz, procurava o futuro, era porque, obscuramente, escolhia um movimento para a frente que servisse de forma à sua sensação.<br /><br /><br />Assim juntara uma procissão de coisas miúdas. Quedavam-se quase despercebidas no seu quarto. Eram bonecos magrinhos e altos como ela mesma. Minuciosos, ligeiramente desproporcionados, alegres, um pouco perplexos — às vezes, subitamente, pareciam um homem coxo rindo. Mesmo suas figurinhas mais suaves tinham uma imobilidade atenta como a de um santo. E pareciam inclinar-se, para quem as olhava, também como os santos. Virgínia podia fitá-las uma manhã inteira, que seu amor e sua surpresa não diminuiriam.<br /><br />— Bonito... bonito como uma coisinha molhada, dizia ela excedendo-se num ímpeto imperceptível e doce.<br /><br />Ela observava: mesmo bem acabados, eles eram toscos como se pudessem ainda ser trabalhados. Mas vagamente, ela pensava que nem ela nem ninguém poderia tentar aperfeiçoá-los sem destruir sua linha de nascimento . Era como se eles só pudessem se aperfeiçoar por si mesmos, se isso fosse possível.<br /><br />As dificuldades surgiam como uma vida que vai crescendo. Seus bonecos, pelo efeito do barro claro, eram pálidos. Se ela queria sombreá-los não o conseguia com o auxílio da cor, e por força dessa deficiência aprendeu a lhes dar sombra ainda por meio de forma. Depois inventou uma liberdade: com uma folhinha seca sob um fino traço de barro conseguia um vago colorido, triste assustada quase inteiramente morto. Misturando barro à terra, obtinha ainda outro material menos plástico, porém mais severo e solene. MAS COMO FAZER O CÉU? Nem começar podia! Não queria nuvens — o que poderia obter, pelo menos grosseiramente — mas o céu, o céu mesmo, com sua existência, cor solta, ausência de cor. Ela descobriu que precisava usar uma matéria mais leve que não pudesse sequer ser apalpada, sentida, talvez apenas vista, quem sabe! Compreendeu que isso ela conseguiria com tintas.<br /><br />E às vezes numa queda, como se tudo se purificasse, ela se contentava em fazer uma superfície lisa, serena, unida, numa simplicidade fina e tranqüila.<br /><br />O texto acima foi publicado na revista "Nordeste" (Ano XIII, nº 2, julho de 1960, Recife-PE) e consta do romance "O Lustre", publicado em 1946. Foi extraído de reprodução feita pela Oficina do Livro Rubens Borba de Moraes, produção editorial de Giordanus - São Paulo, maio de 2003, sendo mais uma colaboração de João Antônio Bührer e seus "Arquivos Implacáveis".Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-90588526074368437172008-06-07T14:39:00.002-07:002008-06-07T14:41:14.914-07:00O AdeusO Adeus<br /><br />Rubem Braga<br /><br /><br />No oitavo dia sentimos que tudo conspirava contra nós. Que importa a uma grande cidade que haja um apartamento fechado em alguns de seus milhares de edifícios; que importa que lá dentro não haja ninguém, ou que um homem e uma mulher ali estejam, pálidos, se movendo na penumbra como dentro de um sonho?<br />Entretanto a cidade, que durante uns dois ou três dias parecia nos haver esquecido, voltava subitamente a atacar. O telefone tocava, batia dez, quinze vezes, calava-se alguns minutos, voltava a chamar; e assim três, quatro vezes sucessivas.<br />Alguém vinha e apertava a campainha; esperava; apertava outra vez; experimentava a maçaneta daporta; batia com os nós dos dedos, cada vez mais forte, como se tivesse certeza de que havia alguém lá dentro. Ficávamos quietos, abraçados, até que o desconhecido se afastasse, voltasse para a rua, para a sua vida, nos deixasse em nossa felicidade que fluía num encantamento constante.Eu sentia dentro de mim, doce, essa espécie de saturação boa, como um veneno que tonteia, como se meus cabelos já tivessem o cheiro de seus cabelos, se o cheiro de sua pele tivesse entrado na minha. Nossos corpos tinham chegado a um entendimento que era além do amor, eles tendiam a se parecer no mesmo repetido jogo lânguido, e uma vez, que, sentado, de frente para a janela por onde se filtrava um eco pálido de luz, eu a contemplava tão pura e nua, ela disse: "Meu Deus, seus olhos estão esverdeando":<br />Nossas palavras baixas eram murmuradas pela mesma voz, nossos gestos eram parecidos e integrados, como se o amor fosse um longo ensaio para que um movimento chamasse outro: inconscientemente compúnhamos esse jogo de um ritmo imperceptível, como um lento bailado.<br />Mas naquela manhã ela se sentiu tonta, e senti também minha fraqueza; resolvi sair, era preciso dar uma escapada para obter víveres; vesti-me lentamente, calcei os sapatos como quem faz algo de estranho; que horas seriam?<br />Quando cheguei à rua e olhei, com um vago temor, um sol extraordinariamente claro me bateu nos olhos, na cara, desceu pela minha roupa, senti vagamente que aquecia meus sapatos. Fiquei um instante parado, encostado à parede, olhando aquele movimento sem sentido, aquelas pessoas e veículos irreais que se cruzavam; tive uma tonteira, e uma sensação dolorosa no estômago.<br />Havia um grande caminhão vendendo uvas, pequenas uvas escuras; comprei cinco quilos. O homem fez um grande embrulho de jornal; voltei, carregando aquele embrulho de encontro ao peito, como se fosse a minha salvação.<br />E levei dois, três minutos, na sala de janelas absurdamente abertas, diante de um desconhecido, para compreender que o milagre acabara; alguém viera e batera à porta, e ela abrira pensando que fosse eu, e então já havia também o carteiro querendo o recibo de uma carta registrada, e quando o telefone bateu foi preciso atender, e nosso mundo foi invadido, atravessado, desfeito, perdido para sempre — senti que ela me disse isso num instante, num olhar, entretanto lento (achei seus olhos muito claros, há muito tempo não os via assim, em plena luz), um olhar de apelo e de tristeza onde, entretanto ainda havia uma inútil, resignada esperança.<br />Texto extraído do livro "Figuras do Brasil – 80 autores em 80 anos de Folha", Publifolha – SP, 2001, pág. 132.Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-19304385368123192262008-06-07T14:39:00.001-07:002008-06-07T14:39:47.857-07:00Amor - O interminável AprendizadoAmor - O Interminável Aprendizado<br />Affonso Romano de Sant'Anna<br /><br />Criança, ele pensava: amor, coisa que os adultos sabem. Via-os aos pares namorando nos portões enluarados se entrebuscando numa aflição feliz de mãos na folhagem das anáguas. Via-os noivos se comprometendo à luz da sala ante a família, ante as mobílias; via-os casados, um ancorado no corpo do outro, e pensava: amor, coisa-para-depois, um depois-adulto-aprendizado.<br />Enganava-se. Enganava-se porque o aprendizado de amor não tem começo nem é privilégio aos adultos reservado. Sim, o amor é um interminável aprendizado.<br />Por isto se enganava enquanto olhava com os colegas, de dentro dos arbustos do jardim, os casais que nos portões se amavam. Sim, se pesquisavam numa prospecção de veios e grutas, num desdobramento de noturnos mapas seguindo o astrolábio dos luares, mas nem por isto se encontravam. E quando algum amante desaparecia ou se afastava, não era porque estava saciado. Isto aprenderia depois. É que fora buscar outro amor, a busca recomeçara, pois a fome de amor não sabia nunca, como ali já não se saciara.<br />De fato, reparando nos vizinhos, podia observar. Mesmo os casados, atrás da aparente tranqüilidade, continuavam inquietos. Alguns eram mais indiscretos. A vizinha casada deu para namorar. Aquele que era um crente fiel, sempre na igreja, um dia jogou tudo para cima e amigou-se com uma jovem. E a mulher que morava em frente da farmácia, tão doméstica e feliz, de repente fugiu com um boêmio, largando marido e filhos.<br />Então, constatou de novo se enganara. Os adultos, mesmo os casados, embora pareçam um porto onde as naus já atracaram os adultos, mesmo os casados, que parecem arbustos cujas raízes já se entrançaram, eles também não sabem, estão no meio da viagem, e só eles sabem quantas tempestades enfrentaram e quantas vezes naufragaram.<br />Depois de folhear um, dez, centenas de corpos avulsos tentando o amor verbalizar, entrou numa biblioteca. Ali estavam as grandes paixões. Os poetas e novelistas deveriam saber das coisas. Julietas se debruçavam apunhaladas sobre o corpo morto dos Romeus, Tristãos e Isoldas tomavam o filtro do amor e ficavam condenados à traição daqueles que mais amavam e sem poderem realizar o amor.<br />O amor se procurava. E se encontrando, desesperava, se afastava, desencontrava.<br />Então, pensou: há o amor, há o desejo e há a paixão.<br />O desejo é assim: quer imediata e pronta realização. É indistinto. Por alguém que, de repente, se ilumina nas taças de uma festa, por alguém que de repente dobra a perna de uma maneira irresistivelmente feminina.<br />Já a paixão é outra coisa. O desejo não é nada pessoal. A paixão é um vendaval. Funde um no outro, é egoísta e, em muitos casos, fatal.<br />O amor soma desejo e paixão, é a arte das artes, é arte final.<br />Mas reparou: amor às vezes coincide com a paixão, às vezes não.<br />Amor às vezes coincide com o desejo, às vezes não.<br />Amor às vezes coincide com o casamento, às vezes não.<br />E mais complicado ainda: amor às vezes coincide com o amor, às vezes não.<br />Absurdo.<br />Como pode o amor não coincidir consigo mesmo?<br />Adolescente amava de um jeito. Adulto amava melhormente de outro. Quando viesse a velhice, como amaria finalmente? Há um amor dos vinte, um amor dos cinqüenta e outro dos oitenta? Coisa de demente.<br />Não era só a estória e as estórias do seu amor. Na história universal do amor, amou-se sempre diferentemente, embora parecesse ser sempre o mesmo amor de antigamente.<br />Estava sempre perplexo. Olhava para os outros, olhava para si mesmo ensimesmado.<br />Não havia jeito. O amor era o mesmo e sempre diferenciado.<br />O amor se aprendia sempre, mas do amor não terminava nunca o aprendizado.<br />Optou por aceitar a sua ignorância.<br />Em matéria de amor, escolar, era um repetente conformado.<br />E na escola do amor declarou-se eternamente matriculado.<br /><br /><br />Texto extraído do livro "21 Histórias de amor", Francisco Alves Editora – Rio de Janeiro, 2002, pág.11.Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-84549866437601325432008-06-07T14:37:00.000-07:002008-06-07T14:38:10.306-07:00A evidênciaA Evidência<br />Millôr Fernandes<br /><br /><br />Ainda que pasmem os leitores, ainda que não acreditem e passem, doravante, a chamar este escritor de mentiroso e fátuo, a verdade é que, certo dia que não adianta precisar, entraram num restaurante de luxo, que não me interessa dizer qual seja, um ratinho gordo e catita e um enorme tigre de olhar estriado e grandes bigodes ferozes. Entraram e, como sucede nas histórias deste tipo, ninguém se espantou, muito menos o garçon do restaurante. Era apenas mais um par de fregueses. Entrados os dois, ratinho e tigre, escolheram uma mesa e se sentaram. O garçon andou de lá prá cá e de cá prá lá, como fazem todos os garçons durante meia hora, na preliminar de atender fregueses mas, afinal, atendeu-os, já que não lhe restava outra possibilidade, pois, por mais que faça um garçon, acaba mesmo tendo que atender seus fregueses. Chegou pois o garçon e perguntou ao ratinho o que desejava comer. Disse o ratinho, numa segurança de conhecedor - "Primeiro você me traga Roquefort au Blinnis. Depois Couer de Baratta filet roti à la broche pommes dauphine. Em seguida Medaillon Lagartiche Foie Gras de Strasbourg. E, como sobremesa, me traga um Parfait de biscuit Estraguèe avec Cerises Jubilée. Café. Beberei, durante o jantar, um Laffite Porcherrie Rotschild 1934.<br /><br />— Muito bem - disse o garçon. E, dirigindo-se ao tigre — E o senhor, que vai querer?<br /><br />— Ele não quer nada — disse o ratinho.<br /><br />— Nada? — tornou o garçon — Não tem apetite?<br /><br />— Apetite? Que apetite? — rosnou o ratinho enraivecido — Deixa de ser idiota, seu idiota! Então você acha que se ele estivesse com fome eu ia andar ao lado dele?<br />MORAL: É NECESSÁRIO MANTER A LÓGICA MESMO NA FANTASIA.<br /><br />Millôr Fernandes, ou Emmanuel Vão Gôgo, nosso grande humorista, pensador, chargista, tradutor, escritor, teatrólogo, jornalista, pintor, é figura indispensável quando se fala de inteligência nacional.<br /><br />Texto extraído do livro “Fábulas fabulosas”, José Álvaro, Editor — Rio de Janeiro, 1964, pág. 89.Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3174470378741893577.post-12211437652612022512008-06-07T14:24:00.000-07:002008-06-07T14:28:30.087-07:00A complicada arte de verA complicada arte de ver<br /><br />Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões - é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto."<br /><br />Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".<br /><br />Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.<br /><br />William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.<br /><br />Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.<br /><br />Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".<br />Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa - garrafa, prato, facão - era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".<br /><br />A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas - e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.<br /><br />Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".<br /><br />Por isso - porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver - eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...<br /><br />O texto acima foi extraído da seção "Sinapse", jornal "Folha de S.Paulo", versão on line, publicado em 26/10/2004.Ana Paula Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/10446469006796661012noreply@blogger.com0