sábado, 7 de junho de 2008

Crise de 1929

Quando o Mundo decretou falência...O Capitalismo em Convulsão em 1929

As fábricas produziam sem parar desde o final da 1ª Guerra Mundial. As encomendas eram cada vez maiores e as perspectivas de crescimento faziam com que os empresários norte-americanos investissem mais na ampliação de seus negócios. Os anos 1920 consolidaram o rádio e o cinema. Os sonhos alimentados pela música e pelos filmes sustentavam a ilusão do progresso sem limites. Ao som do fox-trot a burguesia industrial e comercial ianque balançava seus corpos em longas noitadas durante as quais seu principal combustível eram as bebidas alcoólicas.
Automóveis passaram a ser cada vez mais freqüentes nas ruas das principais cidades dos Estados Unidos. Roupas caras, sofisticadas, elaboradas com tecidos finos, provenientes dos melhores produtores do mundo, produzidas pelos mais conceituados alfaiates, estimulavam ainda mais o consumismo entre os americanos.
O pagamento de dívidas de guerra e os recursos provenientes da quitação de empréstimos concedidos para a reconstrução dos países europeus arruinados pela Grande Guerra de 1914 elevaram os Estados Unidos a posição de maior potência mundial. O comércio entre o Velho Mundo europeu e a terra da promissão fundada por George Washington e Thomas Jefferson era francamente favorável aos americanos no início da década de 1920.
Com seus campos arruinados, sua produção industrial totalmente desarticulada, seus portos de embarque destruídos e com seus meios de transporte e comunicação funcionando precariamente, a Europa ficou a mercê dos produtos que ostentavam o selo “Made in USA” (fabricado nos Estados Unidos).
Remédios, materiais de construção, calçados, roupas, máquinas, madeira, combustíveis, alimentos industrializados, gêneros agrícolas e tudo aquilo que era essencial a sobrevivência dos europeus tinha que ser encomendado de empresas americanas.
A capacidade produtiva dos Estados Unidos, apesar de grandiosa para o período (o país já era considerado um dos mais ricos e importantes no contexto mundial antes da guerra), era insuficiente para responder a enorme demanda que surgiu em virtude da destruição dos centros produtivos que existiam na Europa. Tentava-se aumentar a produção em ritmo acelerado para suprir essa carência do mercado mundial, entretanto, isso acarretava a necessidade de investimentos grandiosos em novas instalações, mais funcionários, tecnologia atualizada e muita agilidade nos sistemas de comunicação e transporte.
Os empresários, sequiosos por novos lucros, investiam tudo o que recebiam na ampliação de seus empreendimentos. Fábricas surgiam da noite para o dia, a contratação de novos funcionários era uma constante, a ampliação dos sistemas geradores de energia uma grande necessidade, a melhoria dos canais de escoamento da produção uma premência cada vez maior...
Por mais que estivessem capitalizando com as vendas, o volume de recursos oriundos dos pagamentos de dívidas ou da aquisição de produtos para a reconstrução européia era menor que a necessidade de dinheiro por parte dos empresários para financiar a ampliação de seus negócios (em todos os setores, da agro-indústria exportadora as linhas de produção industrial, passando pelos serviços e pelo comércio).
Para sustentar esse negócio tão promissor a saída encontrada pelo empresariado ianque foi a especulação na Bolsa de Valores, com a venda de ações com preços superiores ao seu valor real. Essa prática consistia numa negociação com valores projetados, com base em lucros que poderiam ser auferidos em virtude do crescimento acelerado pelo qual passava os Estados Unidos nessa época.
Isso significa que as ações das empresas eram negociadas por valores irreais, que possivelmente seriam atingidos num curto ou médio prazo conforme a avaliação das pessoas que as estavam vendendo. O tilintar das caixas registradoras, constantemente acontecendo em virtude das carências do mercado europeu, cegava os investidores quanto a possibilidade da recuperação gradual dos europeus ocasionar sensíveis diminuições nas importações do Velho Mundo.
Na medida em que o tempo passava e a normalidade voltava a Europa, com a recondução dos operários as fábricas e dos camponeses ao trabalho nas lavouras, países como a Inglaterra, a França, a Itália ou a Alemanha, passaram a diminuir as compras que faziam de fornecedores americanos.
Pressionados pela necessidade de justificar os investimentos feitos pelos compradores de ações ou os empréstimos obtidos junto a bancos e instituições financeiras, os setores produtivos da economia norte-americana continuaram a produzir de forma extremamente acelerada, como se ainda tivessem um enorme volume de encomendas vindas da Europa.
Como essas compras já não estavam sendo efetuadas nos mesmos níveis dos primeiros anos da década de 1920, os estoques de empresas americanas se tornavam cada vez maiores. E não existiam alternativas para o escoamento e a conseqüente venda dessa produção excedente. A América Latina (conhecida então como o “quintal dos Estados Unidos”) tinha reduzido poder de compra e seus mercados não comportavam aumentos consideráveis nas importações.
O mercado interno americano, por sua vez, não havia sido estimulado a ampliar seu poder de compra tendo em vista que as riquezas acumuladas no pós-guerra haviam se concentrado nas camadas mais ricas da sociedade. A má distribuição da renda acumulada com os negócios surgidos em virtude da reconstrução européia e do pagamento de dívidas de guerra minava a possibilidade dessa produção ser revendida ao consumidor norte-americano...
Além disso tudo, o governo do país havia adotado uma estratégia econômica excessivamente liberal, que delegava ao mercado a capacidade de se auto-gerir, sem qualquer intromissão por parte dos governantes, nos conformes das teses defendidas por Adam Smith e David Ricardo, criadores dessa escola econômica
Como conseqüência desse liberalismo acentuado, da especulação na bolsa de valores, da divisão desigual dos rendimentos acumulados com o comércio do pós-guerra e, principalmente da recuperação da Europa, entre os anos de 1927 e 1929, a economia americana começou a ruir.
A ocultação dos dados referentes ao comércio exterior e sua retração, com a continuidade da produção em níveis elevados mesmo não tendo mercados que viessem a comprar tais mercadorias, levou os Estados Unidos a queda gradual dos valores das ações no mercado local e internacional até atingir o fundo do poço em outubro de 1929, quando a falência de milhares de empresas foi decretada.
Dezenas de milhares de indústrias quebraram. Aproximadamente 9 mil bancos e instituições financeiras fecharam suas portas. Agricultores não tinham para quem vender suas safras. Milhões de pessoas ficaram desempregadas da noite para o dia. Investidores desesperados chegaram a se suicidar...
No restante do mundo a falência da locomotiva norte-americana que puxava os demais vagões também provocou estragos consideráveis. O café do Brasil foi queimado ou jogado ao mar, a produção de cobre chileno não tinha mais compradores assim como a carne da Argentina. A incipiente recuperação econômica européia sofria mais um revés e abria-se espaço para a ascensão do nazismo de Hitler no continente...

Nenhum comentário: